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D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...

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sociedade. Nesse sentido é como se esse personagem e narrador não tivesse<br />

nenhum antecessor genético ou afetivo para nominá-lo. Haja vista, por exemplo, que<br />

há um pai em A céu aberto que, além de não desempenhar nenhuma das funções<br />

paternais normalmente exigidas socialmente, tais como, meios de sobrevivência<br />

física, afeto, segurança, apresenta um agravante muito interessante para o que se<br />

pretende colocar: desconhece a idade do filho. Ora, desconhecer a idade é quase<br />

desconhecer o nascimento, é quase desconhecer a existência. Na medida em que a<br />

família nuclear do narrador-personagem não conhece sua idade, também não<br />

conhece seu passado, sua história.<br />

Some-se à questão familiar mais uma, a do trabalho, também historicamente<br />

uma forma de estabelecimento de vínculo com a sociedade. O narrador de A céu<br />

aberto apresenta duas ocupações durante o transcorrer da narrativa. Na primeira é<br />

posto como sentinela de um exército que participa de uma guerra na qual ele não vê<br />

sentido. O final disso é previsível: deserção - o vínculo não se estabelece. Na<br />

segunda atividade há um similar em relação à primeira, novamente sentinela, ou<br />

guardião, só que agora de um paiol em que ficavam umas poucas coisas:<br />

[...] queria em outras palavras me entranhar naquilo que a noite me dava enquanto vigia, a<br />

céu aberto tudo me abrigava melhor do que numa casa, ali não tinha natureza social a<br />

cumprir, aquele meu trabalho de vigia noturno nem tinha muita razão de ser, nenhuma<br />

finalidade exposta, não sabia muito bem o que estava a guardar noites a fio, grande<br />

quantidade não era, já falei, algumas cargas de trigo, o resto aranha, traça, rato, gambá,<br />

gatos, cobras, melros, jabutis, sapos e um cheiro às vezes de merda de tanto que entravam<br />

os bichos numa de cagar no paiol, outras vezes o cheiro era de sexo mesmo, tonteava até<br />

quando o cio dos animais atingia ali dentro um alto grau de concentração e atividade. (NOLL,<br />

1996, pp. 101-102)<br />

Também como vigia do paiol não há nenhuma relação social propriamente<br />

dita. O narrador trabalha a noite e está afastado do convívio com qualquer outro ser,<br />

nem mesmo há um chefe que lhe transmita qualquer instrução: "[...] nunca alguém<br />

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