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D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...

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narrativa e, com mais razão, ao tempo público que a historiografia requer."<br />

(RICOEUR, 1994, p. 130).<br />

Eternidade e morte são reunidas no final da primeira parte do tomo I, uma<br />

discussão que poderá ser muito útil na análise da obra de João Gilberto Noll, tanto<br />

pela constante presença da morte que essa obra retém quanto pela presença da<br />

eternidade que as narrativas pressupõem:<br />

Para Agostinho e toda a tradição cristã, a interiorização das relações puramente extensivas<br />

do tempo remete a uma eternidade em que todas as coisas estão presentes ao mesmo<br />

tempo. A aproximação da eternidade pelo tempo consiste então na estabilidade de uma alma<br />

em repouso: "Então serei estável e sólido em Ti, na minha verdadeira forma, tua Verdade".<br />

Ora a filosofia do tempo de Heidegger, pelos menos na época de Ser e tempo, ao mesmo<br />

tempo que retoma e desenvolve com um grande rigor o tema dos níveis de temporalização,<br />

orienta a meditação não para a eternidade divina, mas para a finitude selada pelo ser-para-amorte.<br />

Há aí duas maneiras irredutíveis de reconduzir a duração mais extensa à duração<br />

mais tensa? Ou a alternativa é só aparente? É preciso pensar que só um mortal pode formar<br />

o propósito de "dar às coisas da vida uma dignidade que as eternize"? A eternidade que as<br />

obras de arte opõem à fugacidade das coisas só pode se constituir numa história? E a<br />

história, por sua vez, só permanece histórica se, ao mesmo tempo que corre acima da morte,<br />

protege-se do esquecimento da morte e dos mortos e permanece uma recordação da morte e<br />

uma memória dos mortos? A questão mais grave que este livro pode colocar é a de saber até<br />

que ponto uma reflexão filosófica sobre a narratividade e o tempo pode ajudar a pensar juntas<br />

a eternidade e a morte. (RICOEUR, 1994, pp. 130-131)<br />

A parte II do primeiro tomo é dedicada à narrativa histórica, portanto, passo a<br />

parte III do segundo tomo que trata da configuração do tempo na narrativa de ficção.<br />

Ricoeur inaugura esse momento do seu estudo apontando para um aprofundamento<br />

do conceito de enredo, que até aqui chamou-se apenas e tão somente de tessitura<br />

da intriga. A ampliação desse conceito se faz necessária no mínimo por um motivo:<br />

o que era enredo para Aristóteles mudou muito desde a Antigüidade Clássica,<br />

porque a narrativa mudou. Em contrapartida, isso não significa dizer que algo de<br />

essencial, ou que algo da tradição não se manteve. Revisar o conceito de intriga<br />

implica em perceber qual relação pode ou não haver entre esta ou aquela obra<br />

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