D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
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Por mais que haja algumas explanações a respeito de sucessão, por<br />
exemplo, nem por isso se pode pensar em qualquer relação com Agostinho ou<br />
Husserl. Não há nunca nenhuma ligação entre presente passando pela memória ou<br />
expectativa, como também não há nada semelhante à noção de retenção. Voltando<br />
ao distanciamento que Kant mantém de qualquer fenomenología: "[...] o próprio<br />
tempo não pode ser percebido, é só obliquamente, por meio da relação do que<br />
persiste com o que muda na existência de um fenômeno, que discernimos esse<br />
tempo que não passa e no qual tudo passa." (RICOEUR, 1997, p. 79)<br />
Somente com o apoio de relações causais torna-se possível conhecer a<br />
determinação transcendental do tempo, inclusive do tempo como ordem. Kant<br />
reforça sempre o caráter inobservável do tempo, sem, no entanto, deixar de admitir<br />
sua representação indireta.<br />
Há um confronto muito claro entre Husserl e Kant, assim como houve entre<br />
Agostinho e Aristóteles. Nem a análise fenomenológica e nem a transcendental<br />
resolvem todos os problemas. Ambas sempre se ressentem da falta que a outra faz.<br />
Ambas se incluem e paradoxalmente se excluem. Em suma, é o mesmo que já havia<br />
acontecido entre Agostinho e Aristóteles, um apegado ao tempo da alma enquanto o<br />
outro forcejava com o tempo do mundo. A aproximação entre Kant e Aristóteles é a<br />
mais lógica, pois:<br />
[...] a objetividade do objeto, cuja garantia é o sujeito transcendental, é uma natureza cuja<br />
ciência empírica é a física. As Analogias da experiência expõem o aparato conceituai cuja<br />
trama articula a natureza. A teoria das modalidades acrescenta o princípio de fechamento,<br />
que exclui do real toda entidade que fique fora dessa trama. Ora, a representação do tempo é<br />
inteiramente condicionada por essa trama, em virtude até de seu caráter indireto. Decorre daí<br />
que o tempo, a despeito de seu caráter subjetivo, é o tempo de uma natureza, cuja<br />
objetividade é inteiramente definida pelo aparato categorial do espírito. (RICOEUR, 1997, p.<br />
91)<br />
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