D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
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para a análise que será empreendida sobre o tempo na obra de João Gilberto Noll,<br />
passa-se ao seguinte: "Os jogos com o tempo".<br />
A pedra de toque da narrativa de ficção é a sua capacidade de<br />
desdobramento entre enunciação e enunciado. Isso gera um "ato judicatório", isto é,<br />
um juízo reflexionante sobre aquilo que se narra no momento mesmo em que essa<br />
narrativa está fluindo. É no momento da enunciação que se adquire a capacidade de<br />
distanciamento e é assim que se "redobra" a narrativa.<br />
O tempo na narrativa tem autonomia em relação ao universo cotidiano na<br />
mesma medida em que não seria pertinente sem ele - ou nas palavras de Ricoeur:<br />
"A necessidade de separar o sistema dos tempos do verbo da experiência viva do<br />
tempo e a impossibilidade de separá-los completamente me parecem ilustrar<br />
maravilhosamente o estatuto das configurações narrativas, ao mesmo tempo<br />
autônomas com relação à experiência cotidiana e mediadoras entre o antes e o<br />
depois da narrativa." (RICOEUR, 1995, p. 111).<br />
A partir de agora Ricoeur começa a citar uma série de pensadores que tratam<br />
do tempo na narrativa de uma forma ou de outra. Para Benveniste, por exemplo, a<br />
narrativa inclui três tempos - o aoristo (ou pretérito perfeito simples definido), o<br />
imperfeito, o mais-que-perfeito - e exclui o presente. Enquanto isso, o discurso excluí<br />
o aoristo e inclui o presente, o futuro e o perfeito. Portanto, há uma linguagem para a<br />
narrativa marcada sobretudo por um tempo verbal dado e outra discursiva com<br />
outras marcas verbo-temporais. Kãte Hamburger, a próxima pensadora citada,<br />
compartilha em linhas gerais dessa idéia, para ela também há uma grande distância<br />
entre o discurso do dia-a-dia e a narrativa de ficção. No entanto, para Hamburger, o<br />
peso recai sobre a figura do personagem e não no tempo.<br />
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