D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
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Na quarta parte, tomo III, a tese de Ricouer ainda é a mesma, seus objetivos<br />
não foram alterados e há uma clara consciência do caminho a seguir. Insiste-se mais<br />
uma vez na ligação existente entre a "configuração narrativa" e a "refiguração da<br />
experiência temporal". A tese não mudou, mas há um desejo de aprofundamento.<br />
Todavia também não é o caso de se trazer à luz aspectos temporais. O filósofo<br />
francês quer o tempo tematizado enquanto tal, o que só será possível com a<br />
introdução, além da historiografia e da narratologia, da fenomenología da<br />
consciência do tempo. Ricoeur crê na narrativa como uma solução poética para uma<br />
série de aporias do tempo e é justamente sobre a aporética da temporalidade que<br />
trata a primeira seção da quarta parte.<br />
A aporia tratada inicialmente será a que se estabelece entre Aristóteles e<br />
Agostinho a partir da questão de que o primeiro trata o tempo dentro de uma<br />
concepção cosmológica, enquanto o segundo de uma concepção psicológica. O<br />
resultado é que ambas se completam, mas não se substituem. Como é de praxe,<br />
mais uma vez a discussão é iniciada com Agostinho, que vê a mensurabilidade do<br />
tempo independente do movimento. Um dia continuaria sendo um dia mesmo que o<br />
sol não se movimentasse. Tal ponto irrita Ricoeur, afinal, a ciência trilhou por um<br />
caminho que tende somente a reforçar sempre mais a noção de que um dia não<br />
seria um dia se não houvesse esse movimento do sol. O princípio da medida de<br />
Agostinho está na alma e não no movimento. Aliás, para ser mais exata, a medida<br />
estaria na expectativa e na lembrança, que se alonga, enquanto a expectativa<br />
diminui com a passagem do tempo. Difícil se satisfazer com essa única visão, é<br />
necessário recorrer ao mundo para medir o tempo.<br />
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