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D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...

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separação entre tempo do contar e tempo contado, repudia-se a memória, nega-se o<br />

passado.<br />

Também se pode inferir que nesses livros em que Noll distancia enunciação<br />

de enunciado a linha é tênue. Talvez se pudesse pensar na idéia de retenção de<br />

Husserl, apresentada por Ricoeur, em que se recusa o presente simplesmente como<br />

um absoluto pontual e se fala em presente ampliado:<br />

[...] já não se deve traçar a barra da diferença entre o presente pontual e tudo o que já<br />

transcorreu e passou, mas sim entre o presente recente e o passado propriamente dito. Isso<br />

ganhará toda a sua força com a distinção entre retenção e relembrança, que é a contrapartida<br />

necessária da continuidade entre impressão original e modificação retencional. Mas, desde<br />

já, pode-se afirmar que o presente e o passado recente pertencem-se mutuamente, que a<br />

retenção é um presente ampliado que garante não só a continuidade do tempo, mas também<br />

a difusão progressivamente atenuada da intuitividade do ponto-fonte a tudo o que o instante<br />

presente retém em si ou sob si. (RICOEUR, 1997, pp. 50-51)<br />

Ou seja, a retenção é um ainda, é uma cauda de cometa, conforme já foi<br />

mencionado anteriormente. Dentro desse espírito a distinção entre tempo do contar<br />

e tempo contado seria meramente formal, mas com quase nenhum distanciamento<br />

temporal de fato, um quase-presente ficcional. Conjecturas, pois a obra de Noli se<br />

abre de tal forma que afirmativas veementes nessa área se tornam muito arriscadas.<br />

De qualquer maneira, acho que o escritor demonstra enorme habilidade ao deixar<br />

questões como essa em suspenso.<br />

Há mais uma coisa a ser dita sobre enunciação e enunciado. Na medida em<br />

que tempo do contar e tempo contado se fundem é o tempo do contar que se apaga.<br />

Isso reforça a diluição da memória, o seu fim. É claro que não se trata de diluição<br />

completa da memória. Conforme as duas últimas citações feitas de A céu aberto, o<br />

narrador recorda o crime cometido, observa-se a presença do passado, no entanto,<br />

mais uma vez, duvida-se que de fato haja existido uma mulher e/ou um irmão. Isto é,<br />

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