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D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...

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sua mulher e em seguida a mata. De certa forma, trata-se de um fratricidio, pois a<br />

mulher é o irmão modificado. A mulher é assassinada por asfixia, não tem tempo<br />

nem mesmo de abrir os olhos, quanto mais de falar qualquer coisa:<br />

Já me vestira, já podia ir. Antes fui ali perto de seu corpo leitoso, hesitei em completar um<br />

gesto qualquer, como pousar a mão num seio, acho que era isso... claro, eu me lembro, puxei<br />

mesmo um impulso de dentro de mim e deitei a mão num seio sim, foi isso. Ela não<br />

despertou, apenas mexeu a cabeça e esboçou uma fala. A minha mão ia subindo pelo colo<br />

de algumas sardas, chegou ao ombro. Depois veio a minha outra mão, uma em cada ombro.<br />

Depois as duas mãos se juntaram na base do pescoço. Subiram um pouco. E apertaram com<br />

vontade. Ouviu-se um som esquisito lá dentro do pescoço. Não era um som de articular a<br />

fala, era de dilaceramento mesmo. Um fio de sangue começou a escorrer pelo canto da boca.<br />

Apalpei o dinheiro roubado no meu bolso. E fugi só com a roupa do corpo. (NOLL, 1996, pp.<br />

138-139)<br />

A morte dela tem a princípio um ar de gratuidade, afinal, haviam acabado de<br />

fazer sexo, ela dormia e o protagonista iria fugir, deixar o país. Também não há<br />

qualquer planejamento do crime, o narrador admite ter ciúme do tempo em que a<br />

mulher vivera com o filho de Artur, mas não há a mais remota alusão a um possível<br />

assassinato. Por outro lado, talvez essa atitude, aparentemente destituída de<br />

qualquer resolução mais elaborada, possa ser relacionada diretamente com a<br />

sexualidade. Ora, para o narrador, a mulher tinha em si o irmão, logo, manter, dar<br />

continuidade por mais tempo a um relacionamento que incluía sexo se tornara<br />

insuportável. Desde a infância existira a necessidade de evitar o outro eróticamente:<br />

[...] e se estirava então para o meu colo, coisa que muitas vezes me chateava, aquela massa<br />

menor que eu mas não muito se enrodilhando em meu peito e barriga, tantas vezes sentado<br />

sobre o meu próprio pau como se ele não soubesse, em certas ocasiões eu sutilmente<br />

tentando defender a minha área pubiana, afastando como se distraído uma de suas pernas, a<br />

coxa, nádega, afastando com algum disfarce a mão pousada na região fronteiriça, mas<br />

mesmo assim podia ficar boiando em mim a sobrevida de uma pulsação perigosa[...] (NOLL,<br />

1996, p. 24).<br />

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