D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
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comentário que identifique o tempo transcorrido naquele local. Sua evasão se dá via<br />
sonhos. O narrador sonha durante todo o tempo com uma vida idílico-pastoril com<br />
sua vítima de estupro, um tipo de compensação para o crime. Aqui também há uma<br />
espécie de morte na medida em que o narrador abandona seu passado inteiramente<br />
ao sair da clínica, quase assumindo uma nova identidade. Há também outra questão<br />
que pode intensificar ainda mais o crime que precede a reclusão à clínica. Amália,<br />
empregada da fazenda em que o narrador vai morar após seu longo "exílio", sabe do<br />
estupro: "Amália levantou uma ponta do colchão, tirou uns recortes de jornal e me<br />
mostrou: era eu nas notícias do lance que me levara ao xadrez - mas o que vi nem<br />
deu tempo de ver, pois logo desviei os olhos como se nada daquilo fosse comigo."<br />
(NOLL, 1991, p. 28). A empregada detém um pouco do passado do narrador nas<br />
notícias do jornal, passado do qual ele tenta fugir a todo o instante. Num segundo<br />
momento, Amália e o narrador trocam caricias:<br />
[...] as mamas me pareceram mais cheias, intumescidas, temi que estivesse grávida, mas o<br />
receio durou apenas um instante, e logo voltei a chupar e a morder os dois seios, pois lembrei<br />
que há muito eu não ejaculava dentro dela pela frente, de modo que eu continuava a chupar<br />
e a morder os dois seios sem desassossego, a chuva tamborilava no zinco lá no alto, e de<br />
repente Amália soltou um berro, e gritou assassino, assassino, duas vezes, e eu que estava<br />
nos braços dela me levantei, peguei na sua mão, e percebi no fundo dos seus olhos a<br />
emissão de um sinal de alarme, e concluí que eu não teria a disposição necessária para<br />
decifrá-lo. (NOLL, 1991, p. 33)<br />
Quem seria o assassino? E assassino de quem? Talvez, apenas talvez, o<br />
assassino seja mesmo o narrador e a sua vítima seja Mariana, a menina estuprada<br />
por ele. Afinal, o texto não informa o que haveria acontecido com ela após o<br />
ocorrido. Também se pode pensar num assassinato da inocência, da infância - não<br />
que Mariana fosse criança, mas era muito jovem, assim como o próprio narrador,<br />
que tinha apenas dezenove anos.<br />
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