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D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...

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cusparada que foi justo no seu olho esquerdo que não sabia se abria ou fechava<br />

com aquele cuspe encardido querendo colar na sua íris azulada de tão negra..."<br />

(NOLL, 1996, p. 63).<br />

Esta primeira guerra acaba, mas na verdade só se sabe que acaba quando a<br />

segunda da narrativa começa. O narrador foge de todos os seus estilhaços se<br />

exilando no navio. No entanto, a falta de informações em que o comandante o deixa<br />

gera um clima de dúvida constante sobre a continuidade ou o término do conflito.<br />

Sempre incertezas:<br />

Não foi muito depois de um desses tumultos noturnos, o alvorecer tingindo a janela de violeta,<br />

que eu vi despontar o porto de Maia, um porto que o brutamonte costumava chamar de idílico<br />

para um clandestino: ali a polícia não aparece porque vive a dormir debaixo das figueiras, o<br />

andamento do dia é lento, as mulheres nos cochicham suspiros pelos cantos, e numa de<br />

suas ruas tem um córrego onde muitos param para lavar o rosto cansado e conversar um<br />

bocadinho sobre suas penas e delírios. Ali alguém novo que apareça ninguém vai pensar se<br />

é clandestino ou não, se apátrida, desertor, não conhecem as guerras, perseguições...<br />

(NOLL, 1996, p. 154)<br />

Ao abandonar o navio novas mentiras afloram, o suposto porto idílico não é<br />

absolutamente um lugar tranqüilo, em pouco tempo o personagem se vê novamente<br />

na condição de desabrigado e desprotegido.<br />

O que fica de fato patente a essa situação e que salta aos olhos é que nada é<br />

mais assustador e caótico do que um mundo em guerra. Diante dessa circunstância<br />

nada pode ser estável ou duradouro, tudo é frágil, a começar pela existência. A partir<br />

dessas afirmações é possível dizer que, colocando o seu universo ficcional em<br />

guerra, Noll vai às últimas conseqüências no que se refere à precaridade da vida<br />

humana. A morte é iminente sempre, mas num conflito entre povos torna-se quase<br />

uma urgência. Pode-se dizer ainda algo de mais trágico: o passado da guerra é um<br />

acúmulo de divergências e o seu futuro próximo será a ruína. Não há que se<br />

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