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D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...

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que se mantém uma história narrada desses personagens ¡nominados, porém, esse<br />

elo é rompido na medida em que se desconfia da veracidade desse relato -<br />

veracidade ficcional, é óbvio. O narrador, além de colocar seu passado sob<br />

questionamento, também coloca sua identidade física sob esse mesmo<br />

questionamento, pois com o transcorrer do tempo vai se percebendo cada vez mais<br />

parecido com o comandante do navio em que foge da sua terra natal:<br />

[...] pois então me dirigi para diante do espelho da lanchonete dessa nova cidade onde me<br />

encontrava agora, e com certo pasmo me vi quase igual ao próprio comandante desdentado:<br />

um cara que era eu e que parecia nas vésperas dos cinqüenta, algumas boas falhas<br />

dentárias, uma barriga saliente mas que não chegava a humilhar seu dono - e realmente não<br />

me decepcionou completamente isso que vi, estava bem como estava, um homem que ainda<br />

podia viver suas aventuras, um homem que ainda podia despertar uma promessa ou outra,<br />

nada desprezível eu acho. (Um homem que conservava uma tímida e voluntária cicatriz na<br />

face, feita anos passados para camuflar o semblante renegado.) (NOLL, 1996, p. 156)<br />

O narrador sofre processo semelhante ao do próprio irmão na medida em que<br />

também passa por uma metamorfose de ordem física. Só que enquanto o irmão<br />

durante sua puberdade se transforma em mulher, o narrador se aproxima de seu<br />

"algoz" já nas vésperas da velhice, numa crescente decadência. Ainda que a citação<br />

não seja exatamente negativa em relação a imagem construída, é preciso ressaltar<br />

que em vários momentos o corpo do comandante é apresentado de forma bastante<br />

depreciativa. Note-se inclusive a relação feita à cicatriz adquirida há muitos anos<br />

quando do momento da deserção do exército. Isto é, a negação da própria<br />

identidade é constante ao longo do texto. Para que um vestígio do narrador possa<br />

continuar existindo é necessário uma série de manobras e artifícios para que se<br />

negue o que se é. Numa atitude paradoxal: é preciso se deixar de ser para que seja<br />

possível se continuar a ser.<br />

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