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D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...

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do personagem de Cris diante da eternidade é idêntica à da morte. Ou seja, o luto<br />

com o qual o personagem se veste representa toda a sua dor diante do "para<br />

sempre" da eternidade.<br />

Em A Céu aberto esse tema é retomado: "Quando alcancei o alto da torre vi<br />

que ao meu lado havia outra sentinela, quase o meu avesso de tão loiro e imberbe.<br />

Ele disse que o outro tinha morrido. Falei que já sabia. Ele argumentou que a morte<br />

um dia acaba, é só a gente perseverar na guerra, não arredar pé que um dia se<br />

verifica que o inimigo sumiu que nem pó e que então haverá só a gente com o<br />

destino livre da sujeira daqueles caras lá." (NOLL, 1996, p. 46). Apesar de não haver<br />

uma menção mais objetiva à eternidade é possível identificá-la pelo fato de que aqui<br />

a morte está no outro, é o outro que está sujeito à morte, é o outro que será<br />

exterminado na guerra. O evidente processo de alteridade afasta a morte do exército<br />

da sentinela e a coloca numa confortável situação de simplesmente esperar o tal dia<br />

em que o inimigo acabar. Visto que a sentinela não cogita da possibilidade de perder<br />

a guerra, fica evidente que também não há para ela a possibilidade - bastante<br />

natural, inclusive - de morrer. Isso coloca a sentinela num eterno presente, ou seja,<br />

não é levada em consideração qualquer interrupção na sua vida. O narrador não se<br />

apresenta de forma muito diferente da do seu companheiro:<br />

[...] quem sabe o meu silêncio pedisse para aderir de coração àquela espera enfadonha da<br />

batalha, depois me subjugar à luta encarniçada, me ferir, virar herói de guerra, mesmo que<br />

me faltando um braço uma perna, a mente arrasada por inomináveis recordações - e no fim<br />

um mimo feito de dentes alvos e peito farto, é... uma mulher toda apetitosa debruçada sobre<br />

o meu tronco despedaçado e coberto de medalhas em cima do leito de uma enfermaria<br />

eterna... (NOLL, 1996, p. 47).<br />

Novamente se tem concordância com o pensamento de Ricoeur no que se<br />

refere à proximidade entre Agostinho e Heidegger. Afinal, a enfermaria eterna coloca<br />

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