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D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...

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Num importante ensaio intitulado "A ilusão biográfica", Pierre Bourdieu tocará<br />

justamente no cerne da questão aqui apresentada: a quase necessidade de<br />

totalidade que se clama quando se pensa no relato da vida de alguém. Ou seja,<br />

imagina-se sempre um ser completo, uno, coerente, etc. E a esse ser cabe uma<br />

história de vida fechada, completa como ele deve ser. Pierre Bourdieu trata da<br />

biografia de maneira geral, mas não vejo nenhum problema em lê-lo pensando na<br />

biografia de caráter ficcional, mesmo porque alguns de seus exemplos são tirados<br />

justamente da ficção. Veja-se o que ele diz do nome:<br />

Como instituição, o nome próprio é arrancado do tempo e do espaço e das variações<br />

segundo os lugares e os momentos: assim ele assegura aos indivíduos designados, para<br />

além de todas as mudanças e todas as flutuações biológicas e sociais, a constância nominal,<br />

a identidade no sentido de identidade consigo mesmo, de constantia sibi, que a ordem social<br />

demanda. E é compreensível que, em numerosos universos sociais, os deveres mais<br />

sagrados para consigo mesmo tomem a forma de deveres para com o nome próprio (que<br />

também, por um lado, é sempre um nome comum, enquanto nome de família, especificado<br />

por um preñóme. (BOURDIEU, 1996, p. 187)<br />

Ao retirar o nome de seus personagens, Noll também retira deles uma<br />

possível máscara de identificação social imutável no tempo e no espaço, algo que<br />

garantiria que aquele personagem se mantivesse suficientemente coerente. Ora, no<br />

universo dos personagens elaborados pelo autor não cabe essa aparente<br />

imutabilidade assegurada pelo nome. Num universo em que a vida está por um fio<br />

constantemente, em que a precariedade é a ordem de tudo, em que a errância e o<br />

exílio são sempre possibilidades, não haveria de ser um reles nome que daria<br />

estabilidade. Além do mais, o nome não é algo escolhido, mas sim algo imposto pela<br />

família e pela sociedade, muitas vezes antes mesmo do nascimento. Quando os<br />

personagens vêm completamente despidos de qualquer nominalização eles também<br />

vêm automaticamente despidos de laços e amarras, seja com família, seja com<br />

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