D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
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poética no campo de nossa experiência temporal, a composição da intriga está<br />
enraizada numa pré-compreensão do mundo e da ação: de suas estruturas<br />
inteligíveis, de suas fontes simbólicas e de seu caráter temporal." (RICOEUR, 1994,<br />
p. 88).<br />
A negação do passado num texto como A fúria do corpo, que se pauta<br />
sobretudo pelo imediato, faz com que o tempo presente fique ainda mais ressaltado<br />
na medida em que se torna o centro irradiador de toda a narrativa. É óbvio que se<br />
pense no narrador como estando no presente, no tempo do contar, o que não é tão<br />
óbvio assim é que o tempo contado também esteja no presente e que esse narrador<br />
seja o ator instantâneo daquilo que conta. Como a ação é muito forte na nossa<br />
cultura - outra vez Mimese I - a possibilidade de reflexão do narrador se esvai. De<br />
certa forma, o próprio narrador se esvai, perde-se o distanciamento suposto entre<br />
ele e a história que é contada. Por isso que se insiste em usar a expressão<br />
personagem-narrador ao invés de narrador-personagem.<br />
A relação com o passado é sempre tumultuada em João Gilberto Noll.<br />
Rastros do verão não é exceção, mas tem marcas singulares. Há um homem adulto<br />
em busca do seu pai. Esse homem apresenta uma relação dificultosa com sua<br />
história, talvez advenha justamente daí a necessidade do reencontro com a figura<br />
paterna, a figura geradora: "Senti um calafrio, como se uma nuvem tivesse passado<br />
por dentro do meu corpo, gelada e instantânea. Eu andara esses anos todos por aí,<br />
e que história pessoal eu poderia contar? Por essa geografia rarefeita quem tinha<br />
gerado comigo alguma memória duradoura?" (NOLL, 1990, p. 22). Neste momento<br />
do texto o encontro com o passado é uma necessidade, é quase um sinal de<br />
apaziguamento. No entanto, o narrador não revê o pai, procura-o em vão, como<br />
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