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D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...

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Portanto não me condenem por não dar meu nome. Nem o dela. Meu nome não. Nem o dela.<br />

Vou às raias da paz, não me acho fugitivo ao confessar que darei a esta mulher um nome<br />

que não se encontra em nenhum cartório, um nome que não dará meu rastro ao inimigo, um<br />

nome que une a força dos astros, um nome cujo desempenho estará sempre lá onde o<br />

guardamos, e não haverá inimigo que poderá identificar esse nome, não haverá grilhões que<br />

o acorrentem, nem sanha diabólica nem treva que o esconda, nem luz que o ofusque nem<br />

anjo que o perverta, nada contra esse nome, e quando numa rua de Copacabana ponho a<br />

mão sobre a cabeça desta mulher para batizá-la do nome noto que ela recebe a Graça e<br />

invoca seu próprio mistério como quem se investe de si mesmo, um nome que não é nada<br />

além de todos os outros, um nome, um nome enfim, que não outorga um registro pessoal<br />

mas contém mantra para todos os aflitos, um nome, um simples nome que adere aos que<br />

precisam de um nome, aos que perderam o seu, o nome do passado civil não, este lembra a<br />

mulher submersa ainda - mas ela também não gosta que se fale do passado, nisso nos<br />

confluímos, os dois, temos juntos um curso que começa aqui, neste exato instante em que<br />

ponho a mão sobre a cabeça desta mulher e a consagro com o novo nome: AFRODITE.<br />

(NOLL, 1989a, pp. 14-15)<br />

Mas é o momento de se avaliar quem é essa mulher na mitologia grega: "O<br />

arquétipo de Afrodite rege o fascínio da mulher pelo amor, a beleza, a sensualidade,<br />

a sexualidade. Assim, sob o império de Eros, a mulher pode tornar-se criativa e<br />

fecunda./A mulher-Afrodite é ágil, alegre, expedita. Desse modo, tudo quanto não a<br />

envolve emocionalmente não lhe interessa. Ama o movimento e a versatilidade."<br />

(BRANDÃO, 1987, p. 351). Ora, essa é a descrição psicológica da companheira do<br />

narrador de A fúria do corpo, especialmente no que se refere à sexualidade, sempre<br />

pulsante. A Afrodite do romance é extremamente generosa com todos os homens<br />

que conhece no que tange a sua expressividade erótica, é o amor sem limites e sem<br />

pudores moralistas. Tudo isso faz com que Afrodite seja uma espécie de síntese de<br />

mulher-ideal criada pelo narrador, isto é, Afrodite não é una, mas várias. Aliás, seu<br />

perfil é tão versátil que não fica absurdo dizer que atrás desse nome único pode<br />

haver várias mulheres-personagens.<br />

A não nominalização em Noli pode ser justificada infinitamente e a fragilidade<br />

existencial dos personagens-narradores e dos personagens em geral dá subsídios<br />

constantes a essa opção. De fato o universo ficcional de Noli é o do anonimato, é o<br />

do ser que não possui visibilidade social, do marginal, do colocado à parte do<br />

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