D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
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Porém, eventualmente alguns restos de memória como que vazam da mente<br />
do narrador, mente que alucinada vive o presente com o desespero de quem sabe<br />
estar constantemente no limite da existência. Essas rápidas emanações do passado<br />
vêm construídas precisamente da forma clássica como Agostinho definiu o presente<br />
do passado, ou seja, o pretérito que flui a partir do presente:<br />
Foi, talvez, por essa época que, num passeio solitário pelos confins do imenso jardim do<br />
internato, eu descobri Afrodite. Estremunhado pela dor de pertencer ao intemato divisei entre<br />
árvores o velho poço que desconhecera até ali, e uma menina de vestidinho branco<br />
encostada no poço me chamava com o dedinho, a menininha sorrindo como a imagem de um<br />
oásis. O encontro foi cândido: baixei a cabeça, vi meu corpo que se arregimentava dos<br />
atributos masculinos - sutil proeminência na virilha, nas pernas emergindo penugem castanha<br />
- e pedi que ela girasse pra que eu pudesse admirá-la em conjunto. (NOLL, 1989a, p. 207)<br />
Ainda que sejam eventuais, o fato é que há um arcabouço de lembranças que<br />
rodeiam o narrador e sua namorada Afrodite. No entanto, a recusa em mergulhar<br />
nisso que se foi e que não pode ser mais do que lembranças chama a atenção. As<br />
rápidas cenas que vêm à tona não deixam transparecer de forma alguma qualquer<br />
dor ou trauma em especial. Ao contrário, do ponto de vista prático, ou burguês, ou<br />
qualquer outra coisa que se queira, o passado surge de maneira muito mais atraente<br />
do que o momento atual da narrativa. Ao menos os personagens não têm aquele ar<br />
de caídos no e do mundo, talvez por serem crianças. A infância passada num<br />
colégio lhes dá uma aura de ligação com o mundo. Há uma insinuação, que vem da<br />
leitura e não do texto, que diz que uma criança precisa de alguém que a coloque<br />
num colégio e que o pague. Naturalmente que há nisso toda uma gama de<br />
experiência de vida que me faz - e que provavelmente faz a muitos outros - ler o<br />
romance dessa forma. Essa experiência de vida é aquela mesma da qual falava<br />
Ricoeur em Mimese I: "Qualquer que possa ser a força de inovação da composição<br />
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