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D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...

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O filósofo francês justifica a nominalização como um recurso de aproximação<br />

do verossímil, ainda que não o primordial, mas em outra passagem ele fará outra<br />

afirmação, que não chega a ser contraditória em relação a esta, pois se dá em outro<br />

contexto: "Responder à questão 'quem'?, como o dissera energicamente Hannah<br />

Arendt, é contar a história de uma vida. A história narrada diz o quem da ação. -A<br />

identidade do quem é apenas, portanto, uma identidade narrativa." (RICOEUR,<br />

1997, p. 424). Essa citação será valiosa para a discussão do nome na obra de Noll,<br />

ou melhor, da ausência de nomes. Apenas a identidade narrativa possibilita se saber<br />

quem fala no texto em determinados momentos. Isto é, em A céu aberto sabe-se<br />

que o narrador é narrador e quando e qual personagem ele é muito mais por uma<br />

questão de função do que por uma questão de coerência na sua "história de vida".<br />

Mas isso chega a uma situação de fato caótica quando se trata do<br />

personagem do irmão que vira mulher. O que poderia garantir a identificação desses<br />

personagens talvez fosse justamente a mais utilizada das convenções sociais para<br />

se caracterizar um sujeito: ter um nome. A céu aberto leva às últimas conseqüências<br />

essa questão, pois o que garantiria uma coerência a esses personagens seria uma<br />

história una, mas não há essa história una, tecida num grande enredo. O irmão<br />

criança se transforma rapidamente numa espécie de adolescente mutante e termina<br />

por se revelar numa mulher. E é bom frisar que essa mulher não carrega consigo de<br />

forma alguma a história desse irmão, seu passado diverge completamente:<br />

- Antes de casar eu era bailarina, fui desde o teatro com madames até o circo mais<br />

chinfrim aqui das redondezas. Uma noite dançando Sibelius, lembro, comecei a ver<br />

literalmente navios, acreditem, durante o último movimento quando era exaltada nos braços<br />

do herói: as largas portas do teatro se abriram, um teatro à beira do porto do extremo Leste<br />

do país, as portas do teatro se abriram e apareceram enormes navios atracados no cais; e eu<br />

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