D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ficcional, é lógico. A forma como o pensador francês coloca essa discussão é<br />
absolutamente interessante. A princípio ele levanta a possibilidade defendida por<br />
Käte Hamburger que só admite um tempo "real" de pessoas "reais", mas em seguida<br />
ele exacerba não só a noção de presente ficcional como também questões bem<br />
mais consagradas e absorvidas como é o caso dos personagens enquanto sujeitos<br />
ficcionais de pensamentos, sentimentos, atitudes e discursos. Em meio a tanta<br />
ficção, nada mais natural do que se pensar num tempo ficcional para personagens<br />
ficcionais.<br />
Voltando ainda uma vez para a diferenciação entre ponto de vista e voz<br />
narrativa, talvez valha mencionar uma citação bastante transparente de Ricoeur e<br />
que deverá sanar qualquer dúvida, se ainda houver: "O ponto de vista responde à<br />
questão: De onde se percebe o que é mostrado pelo fato de ser contado? Portanto:<br />
De onde se fala? A voz responde à questão: Quem está falando aqui?" (RICOEUR,<br />
1995, p. 162)<br />
No encerramento dessa discussão sobre ponto de vista e voz é interessante<br />
que se levante uma questão sobre enunciação e enunciado. O enunciado é passado<br />
para a enunciação, assim como qualquer história contada numa situação cotidiana é<br />
memória de quem a conta. No entanto, ficam dúvidas sobre a aplicabilidade disso na<br />
análise da obra de Noll, isto é, sobre o afastamento entre tempo do contar e tempo<br />
contado. Antecipo esses problemas na ânsia de ressaltar sua dimensão. Não fossem<br />
as nuances com as quais o escritor gaúcho recobre seus textos e uma leitura a partir<br />
da questão do tempo não teria qualquer pertinência especial.<br />
O tomo II de Tempo e narrativa se encerra com as já referidas análises de<br />
Mrs. Dalloway, A montanha mágica e Em busca do tempo perdido.<br />
29