D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
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simplesmente deslocado: outrora, era a complexidade social que exigia o abandono do<br />
paradigma clássico; hoje, é a incoerência presumida da realidade que requer o abandono de<br />
qualquer paradigma. (RICOEUR, 1995, p. 25)<br />
Isto é, aparentemente só o que se alterou foi a visão sobre o que deva ser<br />
objeto privilegiado da narrativa.<br />
Ricoeur volta ainda uma vez a tratar da questão da tradicionalidade ou dos<br />
paradigmas na produção literária. Para ele, o que permite agrupamentos são as<br />
semelhanças narrativas que os próprios textos estabelecem. Até agora somente os<br />
raciocínios que preservam a essência aristotélica foram exercitados. A partir desse<br />
ponto, o filósofo francês explora a possibilidade do fim da história no sentido de arte<br />
de contar, afinal, a coluna dorsal do muthos também pode ser alterada. A grande<br />
marca desse afastamento deliberado de um conceito mais tradicional de tessitura da<br />
intriga seria o abandono da idéia de completitude. Por outro lado:<br />
Um fecho não conclusivo convém a uma obra que levanta de propósito um problema que o<br />
autor considera insolúvel; nem por isso deixa de ser um encerramento deliberado e<br />
adequado, que coloca em relevo, de maneira reflexiva, o caráter interminável da temática da<br />
obra inteira. A inconclusâo declara, de certa forma, a irresoluçâo do problema colocado. Mas<br />
concordo com Barbara Herrstein Smith quando ela afirma que o antifechamento encontra um<br />
limiar além do qual somos colocados diante da alternativa de excluir a obra do campo da arte<br />
ou de renunciar ao pressuposto mais fundamental da poesia, ou seja, que ela é uma imitação<br />
dos usos não literários da linguagem, entre os quais o uso comum da narrativa como arranjo<br />
sistemático dos incidentes da vida. Na minha opinião, deve-se ousar escolher a primeira<br />
opção: além de qualquer suspeita, deve-se confiar na instituição formidável da língua.<br />
(RICOEUR, 1995, p. 37)<br />
Ou seja, parece haver a necessidade de alguns critérios mínimos para que a<br />
obra possa continuar sendo discutida no campo das artes. O teórico não compartilha<br />
de propostas mais radicais que costumam considerar qualquer forma de expressão<br />
escrita como literatura. Fica bastante claro que não há nenhuma discordância de<br />
fundo em relação à inovação, no entanto, fica também um apelo indireto a respeito<br />
da necessidade que qualquer artista deveria ter de conhecer ao máximo sua cultura.<br />
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