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autor e o leitor, e nela se reconhecem e reconhecem os sentidos em um processo de<br />
identificação (sempre-já-lá) que tem a ver com o “mundo logicamente estabilizado”,<br />
conforme Pêcheux. Essas condições de produção desses sentidos garantem esse efeito-<br />
autor, efeito de unidade do sentido.<br />
102<br />
Na perspectiva discursiva, o conceito de ideologia incorpora e faz avançar<br />
a noção de sujeito e a de implícito da semântica enunciativa.<br />
Quanto ao sujeito, ela o faz, evidenciando o seu modo de construção, a<br />
ilusão da sua unidade e autonomia; quanto ao implícito, ela o coloca<br />
como efeito discursivo que se produz pelas posições que o sujeito ocupa<br />
no jogo entre diferentes sistemas de representação em que o sentido se<br />
constitui. Tudo isso mostra sua materialidade, logo seu caráter histórico e<br />
a qualidade de sua não-transferância. (ORLANDI, 2001, p. 70).<br />
O que se tem como processo discursivo diferenciado, nos casos analisados, é o<br />
que temos chamado de efeito de “enigmático”. Esse efeito é particular deste tipo de<br />
produção e revela (materializa) um processo discursivo específico. Ou seja, primeiramente,<br />
o que vemos é o pré-construído de uma certa ordem de discurso sendo mobilizado através<br />
da aparição de personagens das histórias infantis, todas elas impregnadas pelos sentidos que<br />
as constituem lá, no discurso que as constrói.<br />
No entanto, aqui, essas personagens estão inscritas em outro discurso, o da<br />
mídia, o que constitui tais personagens, já por essa razão, em simulacros. Segundo Gallo,<br />
Estamos considerando simulacro o que resulta de um processo de<br />
transferência de um sentido construído em um determinado discurso (que<br />
lhe sustenta historicamente, socialmente e ideologicamente) para outro<br />
discurso que tem outra sustentação histórica, social e ideológica e que,<br />
portanto, vai interpretar esse “sentido transferido” de uma maneira<br />
própria, certamente diferente.<br />
Por exemplo, o sentido da bíblia, entre os indígenas do Brasil, na época da<br />
colonização. Ou seja, são sentidos que estão ali, esvaziados de seu<br />
funcionamento. Ao mesmo tempo, os novos sentidos produzidos serão<br />
determinados pela memória do discurso no qual o sentido agora se<br />
inscreve. 36<br />
36 Apresentado no CELSU 2004, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis.