You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O não-dito, ou o que estava implícito, só é dado a um possível reconhecimento<br />
através do con<strong>texto</strong> e, também, como forma de complemento do dizer. Podemos relacionálo<br />
ao que Eni Orlandi denomina silêncio: “O silêncio (...) não é transparente. Ele é ambíguo<br />
quanto as palavras, pois se produz em condições específicas que constituem seu modo de<br />
significar.” (2002, p. 105). Mais à frente, a autora enumera os tipos de silêncio.<br />
Tomaremos um destes para argumentar sobre o silêncio percebido no exemplo dado<br />
anteriormente:<br />
51<br />
(...) divisões na forma do silêncio: a) o silêncio fundador e b) a política do<br />
silêncio. O fundador é aquele que torna toda significação possível, e a<br />
política do silêncio dispõe as cisões entre o dizer e o não-dizer. A política<br />
do silêncio distingue por sua vez duas subdivisões: a) o constitutivo (todo<br />
dizer cala algum sentido necessariamente) e b) local (a censura). (ibidem,<br />
p.105).<br />
Ao analisar mais profundamente o anúncio da Walita, podemos notar que,<br />
quando se anuncia como “a primeira e a última”, silencia outras empresas. Portanto,<br />
chegamos a conclusão que o silêncio que está exposto é o constitutivo, que faz parte, como<br />
vimos na citação acima, da política do silêncio. Ou seja, para que a empresa “dite” suas<br />
asserções, alguma coisa tem que silenciar. E é justamente neste processo de posicionar-se<br />
como a que “dita” tendências (do início ao fim), que ela ignora as outras empresas que<br />
fabricam o mesmo eletrodoméstico. Para finalizar sobre a questão do silêncio no exemplo<br />
de anúncio dado, temos em Orlandi (2002, p. 109) que o silêncio denominado de<br />
constitutivo é o que “funciona no nível do historicamente dizível (...)”.<br />
Nesse caso, não se trata mais do nível do autor mas do sujeito<br />
diretamente. Isto é, há sentidos que não nos são proibidos por uma<br />
autoridade de palavra mas que, por processos complexos de nossa relação<br />
ao dizível e que tocam diretamente ao como se significa a história, nós<br />
não chegamos a formular e nem mesmo a reconhecer. (ibidem).<br />
Na última frase do título, “E, pelo jeito, a tendência é continuar assim”, ocorre<br />
ainda uma outra característica que nos serve para análise: a ironia. Segundo Maingueneau<br />
(1997, p.99), a ironia é um gesto dirigido a um destinatário, não uma atividade lúdica,