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desinteressada. E, mais pra frente, “(...) o recurso sistemático à ironia permite efetivamente<br />
resolver um problema estrutural: como dirigir-se simultaneamente, com os mesmos<br />
enunciados, a dois destinatários (...) que o <strong>texto</strong> opõe?”. (ibidem, p.100).<br />
escreve:<br />
Ainda sobre a ironia, Gustavo Bernardo, em seu artigo O Diabo Irônico,<br />
52<br />
A ironia se define pela formulação do dever ser como se já o fosse quando<br />
o interlocutor sabe que não o é. Ao se afirmar uma falsidade que o<br />
interlocutor sabe que é uma falsidade, o con<strong>texto</strong> e suas pressuposições<br />
desfazem a falsidade e a transformam em uma verdade -irônica. Como na<br />
melhor ficção, o interlocutor e o leitor sabem que se diz “metáfora”<br />
querendo dizer “coisa”, dentro de um jogo de faz-de-conta-que-eu-nãosei-o-que-eu-sei<br />
que por sua vez é não apenas intelectualmente<br />
estimulante como epistemicamente necessário. 19<br />
A ironia, na última frase do <strong>texto</strong>, está presente na expressão “E, pelo jeito”,<br />
formulado como um deboche, que poderia ser traduzido brutamente em: pelo jeito, como<br />
nossas concorrentes não fazem nada, não lançam nada novo na nossa frente, pelo jeito,<br />
sempre sobra pra nós fazermos este trabalho para os consumidores. Desta forma, através<br />
do recurso da ironia, o <strong>texto</strong> “fala” com os leitores e com os concorrentes, trazendo à tona<br />
este último, como lembrança de maus profissionais, más empresas, que não se preocupam,<br />
(e nem se preocuparam durante todos estes anos) em proporcionar produtos inovadores<br />
(tecnologicamente falando) aos seus consumidores. “Pelo jeito”, pode ser traduzido<br />
também como “sempre nós” e, analisando a frase, acreditamos que, mesmo não contendo<br />
nela as reticências que na linguagem falada estão presentes, ao lê-la, podemos senti-la, pois<br />
faz parte de nosso repertório popular.<br />
Como vimos, este anúncio parte de uma sentença inicial e se completa (mesmo<br />
dizer de forma diferente) na última frase. Essa maneira de terminar o anúncio é outra<br />
característica do discurso publicitário, que utiliza a persuasão, a forma retórica para se<br />
19 http://p.php.uol.com.br/tropico/html/<strong>texto</strong>s/2568,1.shl 13/07/2005 às 20h03min