a segurança de barragens ea gestão de recursos hÃdricos no brasil
a segurança de barragens ea gestão de recursos hÃdricos no brasil
a segurança de barragens ea gestão de recursos hÃdricos no brasil
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
iqueira, na mansa manhã <strong>de</strong> sol enublado. Um bando <strong>de</strong> rolinhas corricavam<br />
por cima da grama. O bo<strong>de</strong> espichado por <strong>de</strong>baixo da pitombeira, quieto.<br />
Tudo quieto, tudo na paz, me<strong>no</strong>s o coração do mestre José Amaro que batia<br />
com arrancos <strong>de</strong> açu<strong>de</strong> arrombado. Quando a mulher apareceu com um copo<br />
d’água e lhe disse: ...” (Rego, 1976)<br />
A tradição na construção <strong>de</strong> açu<strong>de</strong>s <strong>no</strong> Brasil vem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a cultura indígena,<br />
conforme po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>tectado pela existência <strong>de</strong> uma expressão em tupi-guarani,<br />
parnambué, que segundo Bue<strong>no</strong> (1998) significa: 1) represa, açu<strong>de</strong>, tanque, 2) <strong>de</strong><br />
paranã, paraná, rio; mboé, feito artificialmente. Segundo Holanda (2000) a palavra<br />
açu<strong>de</strong> vem do árabe, as-sudda, que significa: 1) construção <strong>de</strong>stinada a represar<br />
águas, em geral para fins <strong>de</strong> irrigação, 2) vazante on<strong>de</strong> o sertanejo faz a sua cultura,<br />
à medida que baixa o nível da água, 3) lago formado por represamento. Desta<br />
forma o termo açu<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser utilizado para <strong>de</strong>signar tanto a barragem quanto o<br />
lago formado por esta.<br />
Molle (1991) apresenta uma revisão histórica sobre aspectos técnicos e sua<br />
evolução na construção <strong>de</strong> açu<strong>de</strong>s <strong>no</strong> Nor<strong>de</strong>ste. Entre diversas referências, cita<br />
uma em que o autor se <strong>de</strong>parou em 1836 com um açu<strong>de</strong> construído há mais <strong>de</strong> 50<br />
a<strong>no</strong>s e que apresenta excelente estado <strong>de</strong> conservação, que - apesar <strong>de</strong>ssa exceção<br />
- obras <strong>de</strong>sta natureza eram geralmente mal executadas’. Destaca também Molle<br />
que não existiam, <strong>no</strong> século passado, técnicas <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> <strong>barragens</strong> <strong>de</strong> terra,<br />
prevalecendo <strong>no</strong> mundo inteiro um inevitável empirismo.<br />
A seguir são transcritos alguns trechos <strong>de</strong> Molle (1991) que <strong>de</strong>screvem a<br />
História da açudagem <strong>no</strong> semi-árido e que julgamos importante apresentar nesse<br />
trabalho.<br />
Embora a maioria das obras estivesse construída <strong>de</strong> barro, há menção<br />
<strong>de</strong> peque<strong>no</strong>s açu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pedra já <strong>no</strong> meio do século passado. Em 1860, o<br />
francês Francis Belmar fala <strong>de</strong> um dique <strong>de</strong> pedra e cal <strong>de</strong> 40 pés <strong>de</strong> altura e<br />
500 pés <strong>de</strong> comprimento em construção <strong>no</strong> C<strong>ea</strong>rá. Refere-se Antônio Bezerra,<br />
nas suas Notas <strong>de</strong> Viagem em 1884, à Região do Acaraú e <strong>de</strong> Ibiapaba, on<strong>de</strong><br />
“encontram-se alguns peque<strong>no</strong>s açu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pedra e cal, que fornecem água<br />
suficiente à plantação <strong>de</strong> cana”. Menciona também, este autor, um açu<strong>de</strong><br />
cuja “pare<strong>de</strong> construída <strong>de</strong> pedra e cal ali está para atestar a perícia com<br />
que sabiam os <strong>no</strong>ssos maiores tirar proveito <strong>de</strong> sua larga experiência”.<br />
Entretanto, sabemos que o modo <strong>de</strong> construção mais difundido <strong>no</strong><br />
Nor<strong>de</strong>ste, relativo a barragem <strong>de</strong> terra, era bastante original (talvez único);<br />
assim o <strong>de</strong>screve Oswaldo Lamartine <strong>de</strong> Faria:<br />
56