Virgo - A Era dos Homens - Roberto Laaf

Quando um homem está num campo de batalha, está armado
e consciente de que pode tombar a qualquer momento ou no
primeiro descuido, seja pela lâmina sedenta de sangue de um
oponente corpo-a-corpo, seja por uma seta, perdida ou
direcionada. Mas um homem desarmado, sem qualquer
proteção, e que sequer era um militar inimigo. Isso me
perturbou por um longo tempo!
Etiènne prestava atenção ao amigo inglês, desejoso de
conhecer mais profundamente sua natureza.
— A partir desta data, todas as noites antes de uma
batalha, ao colocar as setas que seleciono para carregar em
minha aljava, eu as rezo, uma a uma. Rezo para que Deus seja
misericordioso com as almas que elas Lhe encaminharam
durante a batalha.
— Mesmo para as almas dos francos?
— Ora, vamos! Jamais estive num conflito direto com seu
povo, Etiènne! Conterrâneos de minha amada e saudosa mãe,
que Deus a tenha. Mas lhe asseguro, que rezo, sim, para todos
os inimigos, pois todos são filhos de Deus.
— Acredito nisso, mas não creia que inimigos venham a
ter misericórdia por você, se um dia cair nas mãos deles!
— Não espero misericórdia, e não creio que isso venha a
acontecer um dia, pois não estamos a caminho de uma nova
terra, onde vosso objetivo é instaurar uma cidade pacífica?
Não me vanglorio do dom do arco, de forma que não terei
dificuldades em trocá-lo por uma vida de paz. Também tenho
meus sonhos. — Nesse momento, baixou os olhos e, mesmo à
escuridão, Etiènne pôde notar o sorriso sonhador de Peter. —
Sonho em casar-me cedo, e criar muitos filhos. Desejo ter uma
família feliz, para compensar a infância sombria que fui
obrigado a viver.
— Não se preocupe, amigo. Todos nós realizaremos
nossos sonhos na nova terra, lhe prometo!
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