Virgo - A Era dos Homens - Roberto Laaf

Depois de alguns dias, com a partida dos elfos e de seu
amigo Leon, Michel dedicou-se ainda mais às tentativas de
fazer com que Peter Wells recuperasse seu abalado espírito
devido à mutilação que sofrera durante a recente Guerra da
Floresta Dourada. Michel havia lhe designado uma série de
responsabilidades burocráticas, nomeando-o co-regente de
Nouvelle Lyon, mas ainda assim, nada conseguia conformar
Peter da desdita a que fora submetido.
Michel morria de pena ao ver o amigo pelos cantos,
lamuriando-se de seu triste destino, tornando-se a cada dia
que passava mais ranzinza e intransigente. Nada estava bom
para Peter, e de tudo ele reclamava. Algumas vezes, Michel
teve que perder a paciência e esbravejar com ele, atitude que
era imediatamente repreendida pelo inglês, dizendo que
Michel era impiedoso ao tratar um aleijado daquela forma.
Mas esse tormento não durou por muito tempo, porque
numa tranqüila manhã de primavera, quando o correio de
Sombrorn chegou trazendo uma carta de seu irmão, Etiènne,
Michel foi correndo contar a Peter, cheio de alegria de ter
recebido notícias de seu amado irmão, quando encontrou-o
morto, caído com uma adaga cravada em seu coração, ainda
com seu punho cerrado segurando-a com firmeza.
Com o único braço que tinha, Peter tirou a própria vida,
não suportando viver mutilado, sem mais poder atirar com
seu arco, sem mais poder ser completo como viera ao mundo.
Michel derramou lágrimas ao ver o companheiro morto
daquela forma, e tentou imaginar como deveria estar sendo
insuportável o sofrimento do amigo para que chegasse àquela
atitude insana de tirar a própria vida.
Antes mesmo de tomar qualquer atitude, sentou-se ao
lado do cadáver do amigo e, não com tanta alegria quanto
entrara, quebrou o lacre da carta e procurou ler em voz alta,
como se o inglês, cujo corpo jazia inerte a seu lado, pudesse
ouvi-lo.
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