Virgo - A Era dos Homens - Roberto Laaf

com a cabeça no cepo, aguardando o momento da lâmina
impiedosa cortar-lhe o pescoço?
De repente lembrou-se de seu irmão Etiènne. O que
poderia ter-lhe acontecido? Tentou organizar as idéias e teve
certeza de que, no fundo, a culpa do que estava acontecendo
deveria ser atribuída ao tal Grassac, e claro, ao próprio
Etiènne, por ter levado aquele traidor para a reunião do
Conselho na noite anterior. Eu sabia que isto acabaria
acontecendo, concluiu.
Michel sentiu saudade do tempo em que era criança e
brincava na vila, junto ao seu amigo Leon, correndo para
todos os lados, fingindo que eram honrados cavaleiros do rei,
e que defendiam o grande castelo de Paris.
Só, na escuridão, Michel sentiu-se muito fraco e
impotente. Começou a chorar com grande agonia, temeroso
do que teria que enfrentar, nos próximos dias, ou até mesmo
nas próximas horas.
Na sala ao lado estavam Leon e sua tia Claudia. Assim
como Michel, Leon estava acorrentado à parede do fundo. Sua
tia Claudia, que já não tinha mais idade e nem saúde para
ficar se cansando, estava sentada em um pequeno banco de
madeira, posto ao lado de Leon, limpando-lhe as feridas com
um pedaço limpo de tecido que rasgara de sua própria roupa.
Leon percebeu o olhar triste e cheio de lágrimas de sua tia
e tentou acalmá-la.
— Titia, a senhora não deve ter medo. Nada vai lhe
acontecer, não irão lhe fazer mal algum. Só a trouxeram para
aumentar o meu sofrimento. Depois que me torturarem, irão
deixá-la em paz. Um pouco de compaixão deve existir neste
idiota do Martin.
— Querido, este homem não sabe o que é compaixão,
piedade ou carinho. Ele não tem escrúpulos, não tem coração.
Tudo o que lhe importa é riqueza e poder. Sempre foi assim.
Desde que assumiu a cidade, sua ambição só cresceu.
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