Prosa - Academia Brasileira de Letras

Duas histórias do Brasil de Dom João
Habsburgo orçavam-se em 5.800 libras, não contando os 167 diamantes, no
valor de 6.873 libras esterlinas, e as 17 barrinhas de ouro (1.100 libras esterlinas),
tudo para presentear os grandes da Áustria. Na época, uma libra valia
3.555 mil-réis. Por volta de 1800, com cem libras compravam-se três escravos
homens na melhor condição física. Portanto, com 5.800 libras podia-se adquirir
um plantel com 174 escravos – só grandes senhores possuíam uma escravaria
de tal dimensão.
Informações contidas no livro Guarda Jóias do Brasil, escrito entre 28 de julho
de 1808 e 16 de fevereiro de 1821 revelam, entre aquelas jóias, 40 grandes brilhantes
soltos, de um a sete quilates cada e orçados em 21:928$274 réis (vinte
e um contos e novecentos e vinte e oito mil, duzentos e setenta e quatro réis),
com que o Conde da Barca iniciou as aproximações diplomáticas para o casamento
de Dom Pedro e Leopoldina. Além desses, outros 137 brilhantes miúdos,
pesando todos 116 quilates e valendo 6:681$600, deveriam ser distribuídos
como regalo à nobreza austríaca. Despendeu a coroa portuguesa, só nessas
lembrancinhas, 28:609$874. E isso era apenas o começo. Depois de uma valiosíssima
jóia mandada em 9 de dezembro de 1816 para D. Leopoldina, seguiu-se
uma série de outros presentes: uma medalha com pintura de Dom Pedro
cercada por 18 brilhantes de 6 a 19,5 quilates, com uma coroa tendo quatro
grossos brilhantes (de 6 a 16 quilates); outros 99 brilhantes miúdos (32
quilates no total; o fio de ouro, do qual pendia a medalha, tinha mais 82 brilhantes
pesando 85 quilates; o fecho tinha outros menores). Só essa jóia foi
avaliada em 68:512$000.
Toda essa fortuna serviu de fiança ao rei da Áustria para enviar sua filha aos
trópicos, de onde, mal sabiam, não voltaria viva. Havia muita coisa em jogo,
muito poder e muitos valores. Cada detalhe foi previsto no contrato de casamento
de Suas Majestades Imperiais. No Arquivo Nacional do Rio de Janeiro,
há uma cópia desse contrato lavrado em Viena, em francês, com 12 cláusulas
prevendo todas as situações possíveis a respeito do destino de Leopoldina
nesse consórcio. Em nome da muito santa e indivisível Trindade, lavrou-se
que Sua Majestade Imperial Francisco I e Sua Majestade Dom João VI, dese-
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