Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Vida que valeu a pena<br />
Foi por isso que, embora relutando muito, aceitou, mais do que um convite,<br />
uma convocação do presi<strong>de</strong>nte Castelo Branco para assumir a chefia do Gabinete<br />
Civil (hoje, Casa Civil) da Presidência da República, cargo que, por algum<br />
tempo, acumulou com o <strong>de</strong> ministro da Justiça. Acreditava na breve volta<br />
à normalida<strong>de</strong>. Como pretendia Castelo Branco. É preciso, a propósito, proce<strong>de</strong>r<br />
a uma revisão histórica, para se fazer justiça ao primeiro presi<strong>de</strong>nte do período<br />
militar e também aos presi<strong>de</strong>ntes Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo.<br />
Digo isso muito à vonta<strong>de</strong>, porque combati o regime militar, do começo<br />
ao fim. Primeiro, no movimento estudantil – sem fazer, contudo, a opção corajosa,<br />
mas errada, pela luta armada – e, <strong>de</strong>pois, como parlamentar. Vi, em<br />
1968, cassarem o mandato <strong>de</strong> senador <strong>de</strong> meu pai e suspen<strong>de</strong>rem, por <strong>de</strong>z<br />
anos, seus direitos políticos, sem que ele nunca tivesse sido subversivo e muito<br />
menos corrupto. É preciso que se diga que Castelo, que tinha certas afinida<strong>de</strong>s<br />
intelectuais com Luís Viana Filho, conteve excessos dos primeiros momentos<br />
do golpe militar, e tentou trazer o país <strong>de</strong> volta à <strong>de</strong>mocracia, tendo sido, porém,<br />
vencido pela chamada linha dura militar. Seu objetivo só foi retomado,<br />
com êxito, e progressivamente, por Geisel e Figueiredo.<br />
No governo Castelo Branco, Luís Viana Filho contribuiu para salvar várias<br />
pessoas dos primeiros expurgos. Conta-se que no seu terceiro dia no Palácio<br />
do Planalto, soube, por um militar, que iriam pren<strong>de</strong>r, na Bahia, o jornalista<br />
Raimundo Reis. Disse tratar-se <strong>de</strong> jornalista bem-humorado, irreverente, sem<br />
risco, porém, para o regime. O militar não se conformou. No dia seguinte, o<br />
próprio chefe do Gabinete Militar, General Ernesto Geisel, levou a Luís Viana<br />
duas pastas para mostrar-lhe que Raimundo Dias não era apenas jornalista.<br />
Era também “perigoso lí<strong>de</strong>r bancário”. Luís Viana manteve a <strong>de</strong>fesa do jornalista<br />
e não houve a punição.<br />
Outro caso, relatado pelo Acadêmico Josué Montello, dizrespeito ao então<br />
governador do estado da Guanabara, Negrão <strong>de</strong> Lima. Envolvido, ignominiosamente,<br />
num processo que corria nos tribunais secretos do regime, Negrão <strong>de</strong><br />
Lima escreveu indignada carta ao presi<strong>de</strong>nte Castelo Branco. Antes <strong>de</strong> mandá-la,<br />
porém, conversou com Josué Montello, que o dissuadiu <strong>de</strong> fazê-lo. Dis-<br />
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