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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Everton Barbosa Correia<br />

como se fosse ilhada por um <strong>de</strong>lta em que infância, família e cana-<strong>de</strong>-açúcar se<br />

oferecem como águas que o poeta tem <strong>de</strong> atravessar para constituir seu sujeito<br />

poético, porque contraditoriamente historicizado <strong>de</strong> modo ambivalente no espaço<br />

e no passado familiar.<br />

Não se trata exclusivamente <strong>de</strong> enxergar naquela obra a experiência sensível<br />

incorporada à matéria <strong>de</strong> poesia. Além disso, é necessário i<strong>de</strong>ntificar as marcas<br />

temporais encravadas no seio familiar, que, combinadas entre si, oferecem em<br />

perspectiva a expressão <strong>de</strong> João Cabral. Expressão resultante <strong>de</strong> uma compreensão<br />

mais do que acurada da história, que não se restringe à verificação dos livros.<br />

Mesmo quando examinados, os livros ganham uma coloração especial<br />

por estarem animados pelos nomes dos antepassados, cujo sangue escorre pelas<br />

valas sinuosas da história que chegou até os seus dias. Tudo isso confere um<br />

lugar todo especial ao autor enquanto sujeito histórico e não menos especial<br />

enquanto sujeito que grava a história em poesia. Diante <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> partida,<br />

uma dificulda<strong>de</strong> se impõe <strong>de</strong> antemão, queéa<strong>de</strong>nosi<strong>de</strong>ntificarmos com<br />

um sujeito cuja extração social é bem situada, ainda mais se lhe acrescentarmos<br />

a variante regional.<br />

Para aqueles que ainda estiverem inebriados pelos fumos do pós-mo<strong>de</strong>rnismo,<br />

po<strong>de</strong> não soar comovente uma expressão como “nobre <strong>de</strong> quatro costados”.<br />

Se alguém se interessar pelo patriarcado canavieiro, todavia, convém<br />

lembrar que João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto, além <strong>de</strong> Cabral-<strong>de</strong>-Mello, é Souza-<br />

Leão, Carneiro-Leão e Gonsalves-<strong>de</strong>-Mello. Aos que estiverem ansiando por<br />

algum comentário que conduza <strong>de</strong> volta à literatura, é preciso informar que é<br />

pelo ramo Gonsalves-<strong>de</strong>-Mello que Gilberto Freyre é seu tio-primo; e pelo<br />

ramo Carneiro-da-Cunha, que se entronca no Cabral-<strong>de</strong>-Mello, Manuel<br />

Ban<strong>de</strong>ira é seu primo em quarto grau; o mesmo grau <strong>de</strong> parentesco guardado<br />

com Joaquim Nabuco, pelo ramo Carneiro-Leão. A lista po<strong>de</strong>ria ser estendida,<br />

mas <strong>de</strong>certo comprometeria o comentário. Então, paremos por aqui para<br />

melhor averiguar o terreno em que se está pisando, já que o interesse é <strong>de</strong>monstrar<br />

algo que possa refluir <strong>de</strong> influências e ressonâncias na vida literária,<br />

extensiva ao universo familiar. Isso po<strong>de</strong> ser verificado até mesmo pela cor-<br />

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