Prosa - Academia Brasileira de Letras

Otávio de Faria e
a Tragédia Burguesa
Prosa
Luiz Paulo Horta
“Ivo já tinha feito as suas orações da noite, mas ainda não adormecera. Como
nos dias anteriores, o sono demorava a vir, resistente, parecendo mesmo, em certos
momentos, totalmente impossível. Os minutos passavam, iguais, de uma regularidade
imperturbável, e tinha a impressão de se estarem escoando horas enquanto
ele permanecia ali, estirado, lutando contra a insônia.”
Assim começa, proustianamente, a grande sinfonia romanesca
de Otávio de Faria – a Tragédia Burguesa, talvezo ciclo mais
ambicioso de romances que já se tentou por aqui, comparável, em
sua amplidão, aos Rougon Macquart de Zola.
Hoje, quando comemoramos o centenário de nascimento de
Otávio, o ciclo está quase esquecido. Seus 15 volumes dificilmente
são vistos nas livrarias. Será pelo contexto da época, tão forte nesses
romances? O que começa a ser contado, com a narrativa de Ivo, é a
75
Ocupante da
Cadeira 23
na Academia
Brasileira de
Letras.