Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Luiz Paulo Horta<br />
“O perigo não são os gran<strong>de</strong>s erros cometidos por exceção, as gran<strong>de</strong>s traições<br />
que, à primeira vista, dão a impressão <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>cisivas. Mas é uma<br />
<strong>de</strong>terminada vida medíocre, cheia <strong>de</strong> pequenos hábitos que envenenam, que<br />
comprometem inteiramente as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> amar <strong>de</strong> que cada pessoa<br />
dispõe.”<br />
É essa abertura “para o alto” que Otávio conservou da sua educação religiosa.<br />
Depois <strong>de</strong> falar <strong>de</strong> uma juventu<strong>de</strong> tumultuosa, em que ele lia tudo, pesquisava<br />
tudo, procurava, ele escreve:<br />
“Nunca saberei dizer com exatidão se foi o reencontro <strong>de</strong> Deus que me<br />
trouxe <strong>de</strong> volta ao romancista que eu era, a mim mesmo, portanto, ou se<br />
foi a euforia <strong>de</strong> me reencontrar que acabou <strong>de</strong> abrir meus olhos para a<br />
Verda<strong>de</strong> que eu teimava em não i<strong>de</strong>ntificar, apesar <strong>de</strong> sabê-la inscrita em<br />
meu eu mais íntimo com essas letras <strong>de</strong> fogo que nenhum raciocínio, seja<br />
ele o <strong>de</strong> um Nietzsche ou <strong>de</strong> um Lawrence, nenhuma sedução ‘terrestre’,<br />
seja ela proposta por um Gi<strong>de</strong> ou um Montherlant, conseguirá jamais arrancar<br />
<strong>de</strong> mim mesmo.”<br />
“Eu não sou um romancista católico – ele explicita; sou um católico que escreve<br />
romances” (NB: a distinção é <strong>de</strong> Bernanos). “E ao escrever os meus romances,<br />
não tenho por objetivo divulgar ou discutir a doutrina católica. O engajamento<br />
não tem sentido em arte”.<br />
Cada romance tem o seu peso próprio, embora os personagens reapareçam<br />
– como na Comédia balzaquiana.Veja-se Os Loucos, história <strong>de</strong> uma família das<br />
antigas encastelada numa chácara do Alto da Tijuca. São só três pessoas: a jovem<br />
Lisa Maria, sua mãe, e um rapazórfão, Paulo, educado como se também<br />
fosse filho.<br />
Paulo não tem profissão, vive na ociosida<strong>de</strong>, e tem a má idéia <strong>de</strong> levar para o<br />
convívio familiar o terrível Pedro Borges, seu antigo companheiro <strong>de</strong> colégio.<br />
Sob o disfarce <strong>de</strong> um suposto noivado, Pedro trata <strong>de</strong> conquistar Lisa Maria.<br />
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