Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Izacyl Guimarães Ferreira<br />
rescimento <strong>de</strong> um jornalismo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, quer no que se refere à competência<br />
dos textos <strong>de</strong> muitos profissionais, quer no que se refere à mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> gráfica.<br />
(Mas que aos poucos foi <strong>de</strong>scartando os suplementos literários, hoje <strong>de</strong>dicados<br />
mais ao entretenimento e às celebrida<strong>de</strong>s que à cultura propriamente dita.)<br />
O mundo universitário se amplia nos currículos e se expan<strong>de</strong> país a<strong>de</strong>ntro,<br />
numa floração <strong>de</strong> especialistas – doutores, mestres, ensaístas – que dão ao estudo<br />
das humanida<strong>de</strong>s e da literatura, em particular, novos rumos e maior repertório.<br />
Restringindo-me à poesia, e <strong>de</strong>ixando à margem as passageiras vanguardas<br />
e as rupturas que não se consolidaram, como o Concretismo, ou se limitaram<br />
às obras individuais dos poetas que as formularam (práxis e processo, por<br />
exemplo), embora revelassem uma efervescência e um clima <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong><br />
superação, fico apenas com uma expressiva quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nomes que a meu<br />
ver justificam esta minha consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que o século XX brasileiro, na poesia,<br />
terá sido pelo menos um século <strong>de</strong> prata. Advirto ainda que estas notas<br />
não se apóiam numa pesquisa rigorosa, sendo mais, ou menos que isso, impressões<br />
cuidadosas <strong>de</strong> leituras constantes. Porque o tema é atraente e requer<br />
obra <strong>de</strong> maior fôlego.<br />
Harold Alvarado Tenorio, poeta e professor universitário colombiano, disse-me,<br />
há uns três anos, que era “um exagero absurdo” que o Brasil contasse<br />
com ao menos 20 gran<strong>de</strong>s poetas vivos. Não disse quais eram eles. Eu me arrisco<br />
a ir além dos 20 vivos (e alguns já <strong>de</strong>saparecidos) e listo os que do século<br />
XX me parecem estar entre aqueles que o tempo respeitará.<br />
Eles já não fazem uma poesia <strong>de</strong> continuação da poesia portuguesa. São poetas<br />
brasileiros, pela linguagem, pela temática, mas sem que qualquer vezo nacionalista,<br />
provinciano, dialetal <strong>de</strong>fina sua diferenciação. A língua já se fez<br />
nossa, a sensibilida<strong>de</strong> é nossa, mesmo quando alguns estrangeiros possam, se<br />
<strong>de</strong>sconhecem a sua nacionalida<strong>de</strong>, julgar que alguns são “portugueses”, como<br />
já se disse <strong>de</strong> Cecília Meireles e <strong>de</strong> Ribeiro Couto.<br />
Dos começos do século, já antes mas talvezmais marcadamente <strong>de</strong>pois dos<br />
arroubos <strong>de</strong> 22, veio se consolidando um incipiente cânon, hoje mais visível,<br />
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