Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Gisele Sanglard<br />
Os meios <strong>de</strong> divulgação da época eram as conferências pronunciadas nas<br />
aca<strong>de</strong>mias científicas – que muitas vezes ganhavam as páginas da gran<strong>de</strong> imprensa;<br />
a publicação <strong>de</strong> livros e artigos; e o rádio, que <strong>de</strong>spontava como um espaço<br />
a ser conquistado pelos cientistas para a popularização dos saberes.<br />
O gênero literário <strong>de</strong> Miguel Osório são os textos <strong>de</strong> divulgação científica,<br />
tendo, contudo, se aventurado pelo romance em Almas sem Abrigo (1933), cujo<br />
personagem principal é um matemático, e no diário em O Ambiente <strong>de</strong> Guerra na<br />
Europa (1943), quando narra sua passagem pela Europa, sua estada na França<br />
no momento da invasão alemã e todas as dificulda<strong>de</strong>s para retornar ao Brasil,<br />
em plena 2.ª Guerra Mundial. Um leitor atento não se furtaria <strong>de</strong> traçar um<br />
paralelo entre este livro e Souvenirs, <strong>de</strong> Alexis <strong>de</strong> Tocqueville (1999), on<strong>de</strong> o intelectual<br />
francês narra as Jornadas <strong>de</strong> 1848 em Paris, nas quais foi observador e<br />
ator involuntário – na medida em que era <strong>de</strong>putado na Assemblée Nationale a época.<br />
Da mesma forma, Miguel Osório se viu, na condição <strong>de</strong> observador e participante<br />
involuntário do conflito, com o agravante <strong>de</strong> estar acompanhado <strong>de</strong><br />
sua esposa Luba – uma russa.<br />
Sua produção literário-científica o cre<strong>de</strong>ncia para a eleição na <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong><br />
<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>, assumindo a Ca<strong>de</strong>ira 22 em 1935.<br />
A partir <strong>de</strong>stes breves e incompletos apontamentos, po<strong>de</strong>mos traçar o<br />
perfil acadêmico e científico <strong>de</strong> Miguel Osório <strong>de</strong> Almeida. Po<strong>de</strong>mos falar<br />
da socieda<strong>de</strong> na qual ele se <strong>de</strong>senvolveu, <strong>de</strong> sua sociabilida<strong>de</strong>, do Instituto<br />
Oswaldo Cruz<strong>de</strong> sua época, da divulgação científica, do campo da fisiologia,<br />
entre outros temas. Mas não po<strong>de</strong>mos falar do homem: quais eram seus<br />
gostos? Como era sua vida familiar? Como era a vida privada <strong>de</strong> Miguel Osório<br />
<strong>de</strong> Almeida?<br />
Estes traços parecem ter sido cuidadosamente apagados pelo tempo. E sem<br />
recuperá-los, minimamente, a sua história <strong>de</strong> vida fica incompleta. Assim<br />
como seu mecenas Guilherme Guinle, fazer a biografia Miguel Osório é quase<br />
incorrer no pecado indicado por Pierre Bourdieu: a recriação do curriculum vitae<br />
do pesquisador, com alguma contextualização.<br />
258