Prosa - Academia Brasileira de Letras

Arthur Virgílio
Retomo o curso de minhas observações para assinalar que, quando cheguei
à Câmara dos Deputados pela primeira vez, em 1979, ainda como suplente,
Luís Viana Filho, presidente do Senado, presidia também o Congresso Nacional.
Fui, em seguida, eleito para a Legislatura de 1983/1987. Ao longo desses
anos, eu estava numa Casa do Legislativo e ele, na outra. Não era apenas o espaço
físico que nos separava. Era também e principalmente a luta contra ditadura.
Jovem parlamentar, muito aguerrido, vindo das lutas estudantis e filho
de um homem que tivera cassado seu mandato de Senador, via a situação de
forma ainda muito maniqueísta, sem perceber muito bem que “do outro lado”
havia homens de bem, democratas como Luís Viana Filho, que tampouco se
conformavam com o regime autoritário e, a seu modo, lutavam também pela
volta ao regime democrático. Não tive, por isso, maior convívio com ele, embora
admirasse algumas de suas obras biográficas e ouvisse, sempre, as melhores
referências ao seu nome. Era exemplo de comedimento, compostura, ética,
elegância, afabilidade. E minha admiração só fezcrescer com o passar do tempo.
Hoje, posso fazer minhas as palavras de Lêdo Ivo: “Há certas vidas que são
harmoniosas [...]. O nosso querido e saudoso companheiro Luís Viana Filho
viveu uma dessas vidas.” Eu acrescento: uma vida que valeu a pena!
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