Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Elvia Bezerra<br />
York quando saiu Belo Belo, em 1948? Quem sabe não quis conversar com o<br />
“irmãozinho” sobre os versos “Deixa o teu corpo enten<strong>de</strong>r-se com outro corpo./<br />
Porque os corpos se enten<strong>de</strong>m, mas as almas não”. Como lhe terá repercutido<br />
o poema, nele que, como afirma Dante Milano, consagrava o espírito<br />
ao ato físico?<br />
Criação<br />
Em 1933 Jayme Ovalle <strong>de</strong>ixou o Rio para exercer o cargo <strong>de</strong> Primeiro<br />
Escriturário na Delegacia do Tesouro, em Londres. Mas as circunstâncias em<br />
que a transferência ocorreu só agora são reveladas em O Santo Sujo, e não vale a<br />
pena tirar do leitor o prazer <strong>de</strong> ler, no livro <strong>de</strong> Humberto Werneck, o <strong>de</strong>senrolar<br />
da engenhosa operação que a possibilitou, assim como os preparativos da<br />
viagem, que contaram com a participação <strong>de</strong> Gilberto Freyre, dublê <strong>de</strong> professor<br />
<strong>de</strong> inglês do viajante.<br />
Nessa passagem, as informações dadas por Murillo Hermes da Fonseca, sobrinho<br />
<strong>de</strong> Ovalle e importante fonte para Werneck, constituem ponto alto da<br />
pesquisa em que se funda esta biografia. O autor, ao tirar leite <strong>de</strong> pedra, que foi<br />
o que ele fez, parece ter dito do biografado: vai sair da diafaneida<strong>de</strong> e ganhar<br />
carne e osso. Para isso aprisionou seu personagem, resgatando-lhe a excepcional<br />
dimensão humana, e, ao aprisioná-lo, libertou-o do folclore reducionista<br />
em que ele se encontrava. Por meio <strong>de</strong> copiosa documentação, Werneck não<br />
só nomeou fontes <strong>de</strong> pesquisa, como esten<strong>de</strong>u suas investigações a personagens<br />
secundários, mas não menos instigantes, e <strong>de</strong>ssa maneira enriqueceu a estrutura<br />
do livro, ofereceu picadas novas.<br />
Evi<strong>de</strong>ntemente não abriu mão <strong>de</strong> procurar saber se havia, na Zoological<br />
Society of London, registro do macaquinho pelo qual Ovalle se encantara no<br />
vapor Astúrias, que o transportara à capital inglesa, e que adotou ali mesmo,<br />
em alto-mar. George, como foi batizado o primata, em homenagem ao “xará,<br />
Sua Majesta<strong>de</strong> o rei George V”, foi gran<strong>de</strong> companheiro no início do período<br />
londrino <strong>de</strong> Ovalle, mas, por ficar muito tempo sozinho em casa, seu do-<br />
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