13.04.2013 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A travessia poética <strong>de</strong> Guimarães Rosa<br />

ze”, a sibilina resposta do vaqueiro Adino a José Proeza, quando este fala em<br />

“buscar palavras-cantiga”: “Aí, Zé, opa!” – que significa “a poezia” lida ao<br />

contrário, como notou Benedito Nunes.)<br />

Pois bem. Não sabemos ao certo porque o escritor nunca se posicionou<br />

como poeta. No caso <strong>de</strong> Magma, po<strong>de</strong>mos pensar em três hipóteses, não necessariamente<br />

exclu<strong>de</strong>ntes uma da outra.<br />

A primeira estaria ligada às circunstâncias que o levaram a escrever os textos.<br />

Na época, conta-nos o tio do escritor, Vicente Guimarães, o futuro criador<br />

<strong>de</strong> Tutaméia, cônsul <strong>de</strong> terceira classe, passava por gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s financeiras<br />

e vislumbrou no prêmio do concurso da <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong><br />

uma saída. Aconselhou-se com o tio, “poeta oficial da família”, a respeito<br />

<strong>de</strong> algumas técnicas do verso, sobretudo metrificação e rima. Não gostou <strong>de</strong><br />

tais recursos, confessaria dias <strong>de</strong>pois (“davam muito trabalho e tolhiam, às vezes,<br />

o pensamento”), preferindo poemas soltos, <strong>de</strong> verso livre, aparentemente<br />

mais fáceis. A motivação para escrever ou finalizar Magma teria sido, assim, <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m mais pragmática que artística. O que interessava mesmo era o resultado<br />

material do prêmio. Foi o que aconteceu.<br />

A segunda tem a ver com a alta consciência literária do autor. Homem <strong>de</strong><br />

gênio, logo perceberia que aquele livro pouco ou quase nada acrescentaria à<br />

poesia brasileira, por sabê-lo técnica, expressiva e tematicamente limitado.<br />

Tampouco queria se lançar “conscientemente” como poeta. Importante frisar<br />

que, naquele momento, na década <strong>de</strong> 30, a poesia mo<strong>de</strong>rnista se afirmava através<br />

das obras <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira (Libertinagem, 1930; Estrela da Manhã, 1936),<br />

Raul Bopp (Cobra Norato, 1931), Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (Remate <strong>de</strong> Males, 1930),<br />

Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (Alguma Poesia, 1930; Brejo das Almas, 1934);<br />

Jorge <strong>de</strong> Lima (Poemas Escolhidos, 1932), Murilo Men<strong>de</strong>s (Poemas, 1930; História<br />

do Brasil, 1932; Tempo e Eternida<strong>de</strong>, com Jorge <strong>de</strong> Lima, 1935), <strong>de</strong>ntre outros. Se<br />

então editado, Magma dificilmente teria alcançado, nesse contexto, gran<strong>de</strong> reconhecimento.<br />

A terceira hipótese <strong>de</strong>correria <strong>de</strong> uma concepção própria do fenômeno poético.<br />

Ao agra<strong>de</strong>cer o Prêmio <strong>de</strong> Poesia da ABL <strong>de</strong> 1936, confessaria seu “<strong>de</strong>sa-<br />

233

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!