Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Embora eu estivesse satisfeito com o felizencontro, entendi que, para quem<br />
“não estava aten<strong>de</strong>ndo ninguém”, Ban<strong>de</strong>ira já havia feito enorme esforço comigo<br />
e necessitava <strong>de</strong> repouso. Despedi-me a imaginar que aquele seria nosso<br />
último encontro. E o foi.<br />
No Recife, escrevi e o Diário <strong>de</strong> Pernambuco publicou, em abril <strong>de</strong> 1966:<br />
“Uma carta <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira – Não irei”.<br />
Lá fui amigo do Rei<br />
É um espetáculo <strong>de</strong>veras emocionante o que move o Recife Literário em comemoração<br />
aos 80 anos do Poeta Manuel Ban<strong>de</strong>ira.<br />
Sinto com tudo isso a Unida<strong>de</strong>: “Minha Alma estava naquele instante/<br />
Fora <strong>de</strong> mim longe muito longe”. Estava e está na janela do apartamento da<br />
Avenida Beira Mar, on<strong>de</strong> se “apren<strong>de</strong> com o aeroporto lições <strong>de</strong> partir”, ou<br />
mesmo recostado na poltrona ouvindo o Mestre, a contar histórias <strong>de</strong> Pasárgada.<br />
Lá on<strong>de</strong> está o Porquinho da Índia, on<strong>de</strong> Antônia, a namorada, parece<br />
uma lagarta listrada, uma louca; on<strong>de</strong> há o Rondó dos Cavalinhos. Lá<br />
eu sou amigo do Rei!<br />
Mas a vida é “Outro Belo Belo”. E aqui estou longe do Mestre, longe do<br />
amigo e com gran<strong>de</strong> esperança <strong>de</strong> revê-lo. Sauda<strong>de</strong>s! E o Recife todo quer<br />
vê-lo, abraçá-lo, dizer-lhe <strong>de</strong> viva voz o nosso agra<strong>de</strong>cimento <strong>de</strong> recifense por<br />
ele haver levado a nossa alma, a nossa sensibilida<strong>de</strong> a um plano universal.<br />
Embora o poeta nos tire <strong>de</strong>ssa esperança. E como a <strong>de</strong>sesperança <strong>de</strong><br />
Manuel Ban<strong>de</strong>ira não afeta somente a mim, mas ao povo, faço <strong>de</strong>sse público<br />
que compreen<strong>de</strong> a sua obra, sua simplicida<strong>de</strong> e gran<strong>de</strong>za o dono<br />
<strong>de</strong>ssa missiva que recebi há pouco: “Cyl Gallindo, recebi a sua (carta),<br />
<strong>de</strong> 14 e não pu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> me rir a me ver tratado por você com o adjetivo<br />
<strong>de</strong> ‘respeitável’”.<br />
Com isto o poeta não quis retratar uma intimida<strong>de</strong> profunda existente<br />
entre nós dois, apesar das inúmeras visitas – completamente sem formalida<strong>de</strong>s<br />
– que lhe fiz, dos muitos momentos que lhe roubei mostrando poemetos<br />
para os quais recebia aprovação ou reprovação, com a sincerida<strong>de</strong> que<br />
um pai, ou um irmão mais velho, usaria. O poeta <strong>de</strong>monstra aí a gran<strong>de</strong>za<br />
101