Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Arthur Virgílio<br />
Volto ao campo político. Luís Viana Filho aplaudiu a entrada do Brasil na<br />
Segunda Guerra Mundial. Escreveu:<br />
“Antes <strong>de</strong> ser um ato do governo, o nosso <strong>de</strong>finitivo rompimento contra as<br />
forças que buscam escravizar a humanida<strong>de</strong> e pô-la a serviço <strong>de</strong> uma raça foi<br />
uma <strong>de</strong>liberação do povo.”<br />
Em 1945, com o término da guerra e, conseqüentemente, do regime ditatorial<br />
interno, Luís Viana Filho elege-se <strong>de</strong>putado constituinte, ao lado <strong>de</strong> outros<br />
companheiros baianos, como Otávio Mangabeira, Nestor Duarte, Nelson<br />
Carneiro e Aloísio <strong>de</strong> Carvalho. Deixava <strong>de</strong> ser oposição para participar <strong>de</strong> um<br />
governo <strong>de</strong> conciliação. Ele foi o único constituinte <strong>de</strong> 1946 a assinar também<br />
a Constituição <strong>de</strong> 1988, que, como aquela, coroava o término <strong>de</strong> um regime<br />
autoritário.<br />
Tendo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> jovem, lutado corajosamente contra regimes ditatoriais, po<strong>de</strong>rá<br />
parecer contraditório seu apoio ao movimento militar <strong>de</strong> 1964. Mas é<br />
preciso enten<strong>de</strong>r as circunstâncias. Vivia-se em pleno período da “guerra fria”,<br />
uma luta surda entre o Bloco Oci<strong>de</strong>ntal, com os Estados Unidos à frente, e o<br />
Bloco Comunista, com a União Soviética na li<strong>de</strong>rança e uma ponta-<strong>de</strong>-lança<br />
no Caribe – a Cuba <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>l Castro. O governo João Goulart, <strong>de</strong> que meu pai,<br />
integrante do PTB, foi lí<strong>de</strong>r na Câmara e no Senado, parecia, aos olhos <strong>de</strong> um<br />
setor militar e civil, oferecer riscos à Democracia, por sua proximida<strong>de</strong> com<br />
comunistas e sindicalistas. Vista à distância, nos dias <strong>de</strong> hoje, essa suposta<br />
ameaça nunca foi real. Na época, porém, assim parecia até para homens como<br />
Luís Viana Filho, sinceramente <strong>de</strong>fensores do regime <strong>de</strong>mocrático. Imaginavam<br />
talveziminente a implantação do que <strong>de</strong>nominavam <strong>de</strong> república “comuno-sindicalista”<br />
e se sabia bem o que isso po<strong>de</strong>ria significar para as liberda<strong>de</strong>s<br />
individuais, para o regime <strong>de</strong>mocrático. Dentro <strong>de</strong>sse quadro, Luís Viana Filho<br />
apoiou o que seria ação preventiva contra a suposta ameaça <strong>de</strong> uma ditadura,<br />
imaginando que a Democracia, no país, sofreria pequeno curto-circuito, voltando<br />
logo à normalida<strong>de</strong>.<br />
22