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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Elvia Bezerra<br />

nha entrado ‘um ladrãozinho’, houve Manuel Ban<strong>de</strong>ira, o mais próximo e<br />

querido dos amigos <strong>de</strong> Ovalle. Também ele sucumbiu ao mel dos diminutivos<br />

<strong>de</strong> seu ‘irmãozinho’ – e invocou, no poema em prosa ‘Conto cruel’, que<br />

incluiria em Estrela da Manhã, <strong>de</strong> 1936: ‘Meu Jesus-Cristinho!’ Adorava os<br />

inhos e inhas em que Ovalle se <strong>de</strong>rretia. Não <strong>de</strong>ixaria passar sem registro,<br />

entre outras pérolas, a resposta que o companheiro <strong>de</strong>u a alguém que o criticara<br />

por estar usando luto:<br />

– Deixa eu usar o meu lutinho!”<br />

Werneck mostra a espantosa lógica <strong>de</strong> Ovalle por meio da impressão que<br />

lhe causou o poeta do “Soneto <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>”: “Não seria fogo <strong>de</strong> palha o<br />

encantamento <strong>de</strong> Vinicius com Jayme Ovalle – que, por seu turno, adorou<br />

o jovem colega: ‘Senti-lhe o cheiro <strong>de</strong> poeta’, <strong>de</strong>clarou <strong>de</strong>pois. ‘O menino<br />

compreendia que a lua era uma vaca’.”<br />

E transcreve trecho da crônica “O morto”, escrita por Vinicius quando da<br />

morte do amigo:<br />

“Ovalle me disse que durante a minha ausência o Anjo Gabriel tinha chegado,<br />

mas se recusara terminantemente a tomar batida. Que não quisera tomar nem<br />

mesmo um uisquinho, <strong>de</strong> que gostava muito, porque não andava bem do fígado,<br />

com as preocupações que lhe estavam dando não só a situação internacional,<br />

como, e principalmente, o casamento <strong>de</strong> MP, que classificava <strong>de</strong> uma<br />

completa loucura. – Para ele não beber uísque – pon<strong>de</strong>rou Ovalle – é porque<br />

a coisa não <strong>de</strong>ve mesmo andar nada boa... [...] – Engraçado... – disse afinal. –<br />

Eu não pensava que o Anjo Gabriel tivesse olhos azuis.”<br />

Se o episódio parece pitoresco <strong>de</strong>mais, um outro <strong>de</strong>poimento, agora <strong>de</strong><br />

Schmidt, mostra faceta diferente:<br />

“Era Jayme Ovalle natural e inesperado. Nos lugares mais absurdos, mais<br />

impróprios, mais boêmios, suspirava por Deus, explicava o mistério da San-<br />

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