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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Izacyl Guimarães Ferreira<br />

Ainda que o fenômeno seja repetitivo ao longo da história dos movimentos<br />

literários, os principais poetas do século, após um início grupal, em torno <strong>de</strong> certos<br />

princípios estéticos, se apartam e afirmam singularida<strong>de</strong>s, dicções próprias.<br />

Esta noção <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> temas, formas, preocupações, distingue<br />

cada um <strong>de</strong>les, tal como, voltando à Espanha, distancia Quevedo <strong>de</strong> Garcilaso,<br />

Cervantes <strong>de</strong> Cal<strong>de</strong>rón, ou Machado <strong>de</strong> Lorca e Guillén <strong>de</strong> Alberti. Corramos<br />

o risco e nomeemos alguns <strong>de</strong>stes poetas que dão qualida<strong>de</strong> ao século. Seria<br />

um “século <strong>de</strong> ouro”? Ou exageramos?<br />

À passagem do século, nomes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância marcam um período<br />

que transcen<strong>de</strong> a noção <strong>de</strong> transição. São poetas como os citados Augusto dos<br />

Anjos, Cruze Souza, Da Costa e Silva, Alphonsus e Raul <strong>de</strong> Leoni, uma geração<br />

<strong>de</strong> simbolistas que já foi chamada <strong>de</strong> impressionista, penumbrista. É a que prece<strong>de</strong><br />

a revolução mo<strong>de</strong>rnista <strong>de</strong> 22. Que, apesar <strong>de</strong> seu programado nacionalismo,<br />

trazem seu bojo idéias importadas e já em uso, fazia tempo, na Europa. E o período<br />

comporta ainda os últimos livros parnasianos. Nomes do alvorecer literário<br />

do país, oitocentista e já orientado para gran<strong>de</strong>zas, por si só consolidadas e<br />

prontas para uma continuida<strong>de</strong> que não as <strong>de</strong>smerece na centúria seguinte.<br />

Da primeira meta<strong>de</strong> até os anos 50, Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. O poeta, <strong>de</strong>ixando<br />

<strong>de</strong> lado o ficcionista, o crítico, o teórico, tudo o que ele foi: sua poesia soube<br />

abrir caminhos, além da língua “brasileira” que não vingou. Mas a sua é uma<br />

rica sensibilida<strong>de</strong> brasileiríssima. Sua vozé nossa, seu sentir é nosso. Seu pensamento<br />

sobre poesia influiu po<strong>de</strong>rosamente, através <strong>de</strong> constante correspondência,<br />

sobre a obra <strong>de</strong> nomes como Ban<strong>de</strong>ira e Drummond, entre outros.<br />

Logo, o cada vezmais durável Manuel Ban<strong>de</strong>ira. Reler este poeta é ter-se<br />

uma sensação <strong>de</strong> que algo começa com ele, e é a fala: um poeta que ouvimos<br />

quando estamos lendo calados e sozinhos. A fala mais clara da poesia brasileira.<br />

Ainda mais: talvezo mais culto, pelo que leu, pelo que traduziu, pelo que<br />

mostra na sua apenas aparente simplicida<strong>de</strong>, esta qualida<strong>de</strong> que tão poucos alcançam<br />

e alguns <strong>de</strong>satentos criticam. Ban<strong>de</strong>ira, como já ressaltaram Gilda e<br />

Antonio Candido <strong>de</strong> Melo e Souza no prefácio à sua poesia reunida, oscila entre<br />

um trato direto da realida<strong>de</strong>, um trovar claro, que é sua marca maior, e um<br />

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