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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Cyl Gallindo<br />

O Nor<strong>de</strong>ste na obra ban<strong>de</strong>iriana não figura em forma <strong>de</strong> regionalismo, ou<br />

imposição doutrinária, e sim como expressão lírica <strong>de</strong> um poeta que revela a<br />

sua alma, a sua terra. Vem <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, como quem canta e dança o baião, o maracatu,<br />

o frevo. É a singular coreografia pura das palavras, com obediência natural<br />

das suas concordâncias, que compõe o verso e exalta a Região.<br />

Familiarizado, um dos bons motivos que me levava freqüentemente à casa<br />

do poeta era ver, em meio às correspondências, os convites para clubes, teatro,<br />

cinema, reuniões lítero-musicais, para me apossar daqueles que não lhe interessavam.<br />

Houve oportunida<strong>de</strong>s em que ele confirmou comparecimento, mas se<br />

prontificou a me levar em sua companhia. Com ele, fui a muitos eventos.<br />

Assistimos à peça “Gimba”, com Maria Della Costa, no Teatro Municipal, a<br />

“Otelo”, <strong>de</strong> Shakespeare, na Maison <strong>de</strong> France. Fui ao auditório da Rádio Jornal<br />

do Brasil, para o lançamento do livro Paz na Terra, reunião <strong>de</strong> Encíclicas do<br />

Papa João XXIII, prefácio <strong>de</strong> Dom José Vicente Távora e introdução <strong>de</strong><br />

Alceu Amoroso Lima, que não me permitiu comprar a obra, oferecendo-me<br />

um exemplar com <strong>de</strong>dicatória. Ban<strong>de</strong>ira aproveitou o fato para gracejar:<br />

– Está vendo como você é importante?<br />

Ao que respondi no mesmo tom:<br />

– Importante, não, eu sou um estudante liso, e Dr. Alceu sabe disso.<br />

Foi numa <strong>de</strong>ssas catas <strong>de</strong> convites, na escrivaninha do Mestre, que encontrei<br />

o livro Terceira Feira, <strong>de</strong> João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto. No topo da página, o nome<br />

da proprietária: Eliane Zagury. Passei a lê-lo todas as vezes que visitava o poeta.<br />

Vendo o meu interesse, Ban<strong>de</strong>ira me autorizou a levá-lo.<br />

– Mas não é <strong>de</strong> Eliane?<br />

– É... mas foi <strong>de</strong>ixado aí.<br />

Levei-o. Pensava terminar a leitura e <strong>de</strong>volvê-lo para Eliane, a quem conhecia<br />

da FNFi, o que nunca aconteceu. Encontrando-me com João Cabral, no<br />

Recife, contei-lhe o fato e levei a obra para ele autografar, o que resultou nesse<br />

oferecimento: “A Cyl Gallindo, este livro que não tenho porque <strong>de</strong>dicar: vendo<br />

que foi do nosso amigo Manuel Ban<strong>de</strong>ira contra a nossa amiga Eliane Zagury.<br />

Com um abraço <strong>de</strong> João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto.”<br />

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