Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Manobra que Paulo <strong>de</strong>scobre um pouco tar<strong>de</strong>. Incapaz<strong>de</strong> verbalizar tudo<br />
o que ele vê na personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedro, ele usa um recurso hamletiano: finge-se<br />
<strong>de</strong> louco, preten<strong>de</strong>ndo assim assustar ou espantar o corruptor. O que<br />
não resolve nada: Lisa Maria, seduzida e abandonada, acaba por suicidar-se.<br />
Desta vezlouco <strong>de</strong> fato, Paulo encarrega Branco <strong>de</strong> vingá-lo – o que só acontecerá<br />
bem adiante, mas <strong>de</strong> modo inexorável: Branco elimina Pedro Borges.<br />
Fazisso com tanta consciência que se entrega à polícia, e nem quer se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
no processo.<br />
Para construir a sua catedral romanesca, Otávio sacrificou a sua vida. Imolou-se<br />
no altar da gran<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> modo não menos exclusivo que o <strong>de</strong> um<br />
Flaubert. Também neste sentido ele é único na literatura brasileira. Talvez<strong>de</strong>vido<br />
à mesma obsessão, ele não está muito preocupado com a perfeição estilística<br />
– e aqui ele se afasta <strong>de</strong> Flaubert. O estilo é <strong>de</strong>scuidado; mas como flui!<br />
Comenta Lêdo Ivo:<br />
“O curioso é que o leitor, diante <strong>de</strong> O Senhor do Mundo ou <strong>de</strong> qualquer dos romances<br />
anteriores, esquece a modéstia estilística do romancista, seduzido<br />
pelo gênio da história, pelo soberbo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> narração <strong>de</strong>sse criador infatigável<br />
que sabe criar personagens e acionar intrigas, indo até o mais íntimo<br />
das psicologias <strong>de</strong>sesperadas, substituindo o tempo individual da leitura<br />
pelo seu tempo mágico <strong>de</strong> visionário.”<br />
Para Antonio Carlos Vilaça,<br />
Otávio <strong>de</strong> Faria e a Tragédia Burguesa<br />
“o drama, em Otávio <strong>de</strong> Faria, é eminentemente religioso. Tudo adquire, na<br />
sua ficção lenta, vagarosa, analítica, dimensões que transcen<strong>de</strong>m o psicológico<br />
e o social, porque envolvem, implicam o <strong>de</strong>stino total do homem, no<br />
tempo e para além do tempo”.<br />
Ninguém tinha tentado isso, por aqui. Ainda Vilaça:<br />
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