13.04.2013 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Lá fui amigo do Rei<br />

é adjunto adnominal do caráter. Esse poema, como quase toda a sua obra, atesta<br />

a nor<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira. Teoria confirmada pelo Poeta, em Itinerário <strong>de</strong><br />

Pasárgada, ao escrever:<br />

“Dos 6 aos 10 anos, nesses 4 anos <strong>de</strong> residência no Recife [...] construiu-se<br />

a minha mitologia, e digo mitologia porque os seus tipos, um Teotônio Rodrigues,<br />

uma Dona Aninha Viegas, a preta Tomásia, velha cozinheira da<br />

casa <strong>de</strong> meu avô Costa Ribeiro, têm para mim a mesma consistência heróica<br />

das personagens dos poemas homéricos. A Rua da União, com os quatro<br />

quarteirões adjacentes limitados pelas Ruas da Aurora, da Sauda<strong>de</strong>, Formosa<br />

e Princesa Isabel, foi a minha Tróada, a casa do meu avô, a capital <strong>de</strong>sse<br />

país fabuloso. Quando comparo esses quatro anos <strong>de</strong> minha meninice a<br />

quaisquer outros quatro anos <strong>de</strong> minha vida <strong>de</strong> adulto, fico espantado do<br />

vazio <strong>de</strong>stes últimos em cotejo com a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> daquela quadra distante.”<br />

Foi esse entendimento que me levou a contestar o poeta Ezio Pires, na Biblioteca<br />

Demonstrativa <strong>de</strong> Brasília, ao afirmar, numa conferência, que, “se<br />

Ban<strong>de</strong>ira não tivesse saído do Recife, do Nor<strong>de</strong>ste, jamais teria escrito a obra<br />

que escreveu”. Repliquei: – Ezio, amigo, pelo que você <strong>de</strong>monstrou, não posso<br />

dizer que não conhece a obra <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira, mas afirmo que sua análise está distante<br />

da realida<strong>de</strong>: o Poeta Manuel Ban<strong>de</strong>ira é o Recife <strong>de</strong> alma, carne e osso.<br />

Exceto Teresópolis, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, como ele próprio disse a mim, todos os<br />

<strong>de</strong>mais lugares foram apenas passagens na sua trajetória, porque o Recife é a<br />

geografia da sua consciência.<br />

O seu amor não era por um Recife <strong>de</strong>serto, o Poeta mantinha contatos com<br />

Gilberto Freyre, Gilberto Osório, Mauro Mota, Ascenso Ferreira /Stella<br />

Griz. Este casal foi o seu xodó. Ban<strong>de</strong>ira tinha por ele um carinho muito especial.<br />

Certa vez, disse-lhe que viria <strong>de</strong> férias ao Recife. Foi enfático:<br />

– Se não visitar Stellinha e Ascenso, levando-lhes meu abraço, não precisa<br />

mais voltar aqui.<br />

Obe<strong>de</strong>ci e me tornei amigo dos seus amigos, com imensa satisfação.<br />

95

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!