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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Subjetivida<strong>de</strong>, história e genealogia em João Cabral<br />

ma, restrita à sua condição <strong>de</strong> senhor <strong>de</strong> engenho e <strong>de</strong> escritor. Não bastassem os<br />

títulos que lhe foram concedidos, é digno <strong>de</strong> nota que o lexicógrafo era<br />

muito bem relacionado na capitania e na corte, estivesse sediada no Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

ou em Lisboa.<br />

Devido a tais particularida<strong>de</strong>s históricas, cumpre registrar que foi a partir<br />

da segunda edição, <strong>de</strong> 1813, que Antonio <strong>de</strong> Moraes Silva dispensou referências<br />

ao latinista português Rafael Bluteau e se assumiu efetivamente como autor<br />

do dicionário. Dicionário este que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua primeira edição, já se compunha<br />

sem o vocabulário latino e sem o exemplário <strong>de</strong> seus respectivos autores,<br />

para se restringir aos usos da língua portuguesa e se conformar aos mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

um dicionário tal como o enten<strong>de</strong>mos hoje. Para tanto, vale ressaltar a incorporação<br />

<strong>de</strong> novas realida<strong>de</strong>s e tecnologias não previstas no vocabulário latino,<br />

don<strong>de</strong> se <strong>de</strong>staca sua experiência brasileira, reveladora <strong>de</strong> uma nova ambiência<br />

social e <strong>de</strong> um outro condicionamento histórico. Isso tudo se revela <strong>de</strong> pronto<br />

na sua seleção lexical e também na organização <strong>de</strong> seus verbetes, como já veremos.<br />

De todo modo, apesar do caráter ambivalente <strong>de</strong> sua obra, que circulava<br />

em Portugal e no Brasil, <strong>de</strong>staca-se a incorporação <strong>de</strong> um vocabulário nativo,<br />

como sendo distintivo da língua portuguesa. O poema <strong>de</strong> João Cabral mais do<br />

que qualquer outro evi<strong>de</strong>ncia o laço existente entre ancestralida<strong>de</strong> e ilustração,<br />

cujo exemplo seu remoto avô realiza sobejamente.<br />

Moraes <strong>de</strong> léxico e poesia<br />

Do poema “Antonio <strong>de</strong> Moraes Silva” se <strong>de</strong>staca a informação <strong>de</strong> a personagem<br />

ser o quarto avô do sujeito poético. Ora, esta informação já é indicativa<br />

<strong>de</strong> que o sujeito acionado se localiza numa linhagem <strong>de</strong>terminada, pois só<br />

quem tem uma genealogia a reclamar conhece criteriosamente os seus antepassados<br />

e em que ramo se localizam. Saber <strong>de</strong> genealogia é antes <strong>de</strong> tudo um indicativo<br />

<strong>de</strong> classe, já que os plebeus, ao contrário, só se lembram <strong>de</strong> três gerações,<br />

ou seja, até o nome do bisavô. A partir daí, é necessário esforço e <strong>de</strong>dicação<br />

para guardar na memória a sombra dos antepassados, o que só é feito, di-<br />

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