Prosa - Academia Brasileira de Letras

Jayme Ovalle: o homem que conhecia “a temperatura das almas”
tíssima Trindade, discutia a Comunhão dos Santos e deitava a cabeça, cansada,
no colo Materno da Virgem Maria. Tudo isso ele o fazia e dizia com
natural intimidade com o divino mistério, sem que houvesse jamais o menor
desrespeito ou artifício. Falava de Deus como se trabalhasse com ele,
como se tivesse vivido intimamente com o Criador.”
E julgando-se íntimo, podia dar-se a afirmações como a que denuncia Murilo
Mendes em “Saudade de Jayme Ovalle”:
“Uma vez me segredaste algo terrível:
‘Cristo, irmãozinho, era também mau.’”
A Nova Gnomonia
Graças a Manuel Bandeira, que registrou a Nova Gnomonia em crônica,
preservou-se esta que foi a criação mais popular de Jayme Ovalle, ao lado de
“Azulão”. Em síntese, são cinco as categorias em que se classificam os homens:
os parás, os dantas, os mozarlescos, os kernianos e os onésimos.
Os parás são os extrovertidos, ágeis, que vencem quando chegados do Norte.
Visam ao sucesso. Os dantas teriam em Cristo o representante perfeito: são
desprendidos, puros, amantes da verdade. Os mozarlescos são sentimentais e
têm no pintor Cícero Dias, com as suas luas em lágrimas e estrelas sorridentes,
um exemplo da categoria: “São sentimentais, acreditam no esperanto, choram
nos cinemas.” Ribeiro Couto seria um kerniano típico: arrebatado, impulsivo.
E por fim os onésimos, que são céticos, desapontam. Machado de Assis seria
um onésimo.
O capítulo 5 da biografia, intitulado “A Nova Gnomonia”, esgota o assunto.
O autor perfilou o anjo inspirador de cada categoria e descobriu outros sistemas
(não foram poucos) de classificação, derivados da teoria de Ovalle e
Schmidt. Classificar virou moda durante um certo tempo.
Há ainda uma terceira criação de Jayme Ovalle. Trata-se de sua filha, Mariana
Ovalle, “a primavera do outono da minha vida” – dizia o pai, que, já cinqüen-
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