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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Everton Barbosa Correia<br />

solver problemas na Vila do Recife, on<strong>de</strong> adquiriu uma casa, em nada compatível<br />

com o engenho <strong>de</strong> sua residência. 5<br />

A partir daí, sua vida parecia andar mais tranqüila, recebendo por patente<br />

régia a nomeação <strong>de</strong> capitão-mor da Vila <strong>de</strong> Santo Antonio do Recife, além<br />

do hábito da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo, apesar <strong>de</strong> praticar atos nem sempre compatíveis<br />

com a liturgia católica, como bem circunstanciou Evaldo Cabral <strong>de</strong> Mello.<br />

“O filólogo era verda<strong>de</strong>iramente um homem sem religião. Não ouvia missa<br />

nem jejuava nos dias <strong>de</strong> preceito, impedindo sua mulher, filhos e escravos<br />

<strong>de</strong> o fazerem; mandava trabalhar os pretos nesses dias não só pela vantagem<br />

pecuniária daí <strong>de</strong>corrente, mas também ‘por reputar a missa coisa inútil e irrisória’;<br />

alar<strong>de</strong>ava jocosamente que ia mandar or<strong>de</strong>nar dois negros para o<br />

serviço da capela do engenho, a qual, aliás, relegava ao abandono [...]; consentia<br />

aos filhos brincarem com a imagem do menino Jesus nos braços <strong>de</strong><br />

São José, arrastada pela bagaceira e, quando interpelado sobre tamanho <strong>de</strong>saforo,<br />

respon<strong>de</strong>ra que não se ‘fizesse caso, que aquilo era uma calunga’” 6<br />

Além disso, o perfil do dicionarista se <strong>de</strong>sdobra em direção a envolvimentos<br />

laterais e in<strong>de</strong>sejados em levantes revolucionários, contra os quais sempre se<br />

insurgiu e que não <strong>de</strong>spertaram o interesse do poeta em sua abordagem no poe-<br />

5 “O Engenho Novo <strong>de</strong> Muribeca, situado a quatro léguas ao sudoeste da cida<strong>de</strong> do Recife, tão<br />

célebre nos anais guerreiros <strong>de</strong> nossas lutas contra o invasor holandês, no século XVII, e cuja<br />

fundação se pren<strong>de</strong> ainda a tempos mais afastados, como um dos mais antigos engenhos da colônia, e<br />

em terras <strong>de</strong>smembradas do Engenho Santo André, as quais reunidamente a outras faziam parte da<br />

extensa sesmaria concedida ao fidalgo Arnáo <strong>de</strong> Holanda em 1575 pelo donatário Duarte Coelho.<br />

[...] Moraes Silva afastou-se dos mol<strong>de</strong>s vetustos e rotineiros seguidos na lavoura em Pernambuco,<br />

graças aos conhecimentos <strong>de</strong> que dispunha, e convenientemente estudado o que havia <strong>de</strong> mais<br />

aperfeiçoado sobre o amanho das terras, cultura da cana e fabrico do açúcar, obteve gran<strong>de</strong>s<br />

resultados e vantajosas compensações na aplicação prática <strong>de</strong> tudo isso, <strong>de</strong> par com a aquisição <strong>de</strong><br />

tudo quanto havia <strong>de</strong> mais mo<strong>de</strong>rno e aperfeiçoado referente ao maquinismo da fábrica e outros<br />

melhoramentos ainda <strong>de</strong>sconhecidos <strong>de</strong> nossos agricultores.” COSTA, Pereira da. Notícia Biográfica do<br />

Dr. Antonio Moraes Silva. 2.ª ed. Recife: Tip. Agostinho Bezerra, 1910. pp. 30-31.<br />

6 MELLO, Evaldo Cabral <strong>de</strong>. O Nome e o Sangue.2. a ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Topbooks, 2000. p. 276.<br />

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