Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
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<strong>de</strong> gritar para ser ouvida por causa do barulho estilhaçante e encolerizado<br />
das fogueiras. — Não conheces o po<strong>de</strong>r do Cal<strong>de</strong>irão? Coloca os mortos<br />
no Cal<strong>de</strong>irão <strong>de</strong> Clyddno Eiddyn e eles voltarão a caminhar, a respirar e a<br />
viver. — Dirigiu-se com um passo imponente para Artur, a <strong>de</strong>mência espelhada<br />
no seu único olho. — Dá-me o rapaz, Artur.<br />
— Não. — Artur puxou as ré<strong>de</strong>as <strong>de</strong> Llamrei e a égua afastou-se <strong>de</strong><br />
Nimue. Ela virou-se para Merlim.<br />
— Mata-o! — gritou ela, apontando para Mardoc. — Ao menos po<strong>de</strong>mos<br />
tentar com ele. Mata-o!<br />
— Não! — gritei.<br />
— Mata-o! — guinchou Nimue, e <strong>de</strong>pois, como Merlim não se mexia,<br />
ela correu em direção à forca.<br />
Merlim parecia incapaz <strong>de</strong> se mexer, mas <strong>de</strong>pois Artur voltou a virar<br />
Llamrei e evitou Nimue novamente. Deixou que o seu cavalo batesse nela,<br />
fazendo-a cair na turfa.<br />
— Deixa a criança viver — disse Artur para Merlim. Nimue enclavinhou<br />
as mãos como garras e virou-as para ele, mas ele empurrou-a e,<br />
quando ela se voltou novamente para ele, vendo-se-lhe apenas os <strong>de</strong>ntes e<br />
as mãos como ganchos, ele meneou a espada em direção à cabeça <strong>de</strong>la, e<br />
essa ameaça acalmou-a.<br />
Merlim moveu a lâmina brilhante para junto da garganta <strong>de</strong> Mardoc.<br />
O druida parecia quase afável, apesar das suas mangas ensopadas <strong>de</strong> sangue<br />
e da longa espada na sua mão.<br />
— Julgas, Artur ap Uther, que po<strong>de</strong>s <strong>de</strong>rrotar os Saxões sem a ajuda<br />
dos Deuses? — perguntou ele.<br />
Artur ignorou a pergunta.<br />
— Liberta o rapaz — or<strong>de</strong>nou ele.<br />
Nimue virou-se para ele.<br />
— Preten<strong>de</strong>s ser amaldiçoado, Artur?<br />
— Eu estou amaldiçoado — respon<strong>de</strong>u, amargamente.<br />
— Deixa o rapaz morrer! — gritou Merlim da escada. — Ele não te é<br />
nada, Artur. Uma aventura passageira <strong>de</strong> um rei, um bastardo nascido <strong>de</strong><br />
uma prostituta.<br />
— E que mais sou eu — gritou Artur — do que uma aventura passageira<br />
<strong>de</strong> um rei, um bastardo nascido <strong>de</strong> uma prostituta?<br />
— Ele tem <strong>de</strong> morrer — afi rmou Merlim, pacientemente — e a sua<br />
morte irá trazer os Deuses até nós, e quando eles chegarem, Artur, colocaremos<br />
o seu corpo no Cal<strong>de</strong>irão e <strong>de</strong>ixaremos que o sopro da vida volte.<br />
Artur gesticulou na direção do corpo horripilante e sem vida <strong>de</strong> Gawain,<br />
seu sobrinho.<br />
— E uma morte não basta?<br />
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