Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
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guerreiros e animais. As duas crianças <strong>de</strong>batiam-se com o imenso peso do<br />
Cal<strong>de</strong>irão, mas conseguiram colocá-lo junto do druida.<br />
— Eu tenho os Tesouros da Bretanha! — anunciou Merlim, e a multidão<br />
suspirou em resposta. — Em breve, muito em breve — continuou ele<br />
— o po<strong>de</strong>r dos Tesouros será liberto. A Bretanha será revigorada. Os nossos<br />
inimigos serão vencidos! — Fez uma pausa para <strong>de</strong>ixar que as aclamações<br />
ecoassem pelo pátio. — Esta noite haveis visto o po<strong>de</strong>r dos Deuses, mas o<br />
que vistes é coisa pouca, uma coisa insignifi cante. Em breve toda a Bretanha<br />
verá. Todavia, se vamos invocar os Deuses, então preciso do vosso auxílio.<br />
A multidão gritou-lhe que a teria e Merlim sorriu-lhes aprovativamente.<br />
Aquele sorriso benevolente fez-me <strong>de</strong>sconfi ar. Uma parte <strong>de</strong> mim<br />
pressentiu que ele fazia um jogo com aquela gente, mas nem Merlim, pensei,<br />
conseguia fazer com que uma rapariga resplan<strong>de</strong>cesse na escuridão. Eu<br />
vira-a, e eu queria tanto acreditar, e a memória daquele corpo ágil e reluzente<br />
convenceu-me que os Deuses não nos tinham abandonado.<br />
— Ten<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vir a Mai Dun! — disse Merlim com severida<strong>de</strong>. — Ten<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> vir por tanto tempo quanto pu<strong>de</strong>r<strong>de</strong>s, e ten<strong>de</strong>s <strong>de</strong> levar alimentos.<br />
Se tiver<strong>de</strong>s armas, ten<strong>de</strong>s <strong>de</strong> as levar também. Em Mai Dun iremos trabalhar,<br />
e o trabalho será longo e árduo, mas no Samain, quando os mortos<br />
caminharem, invocaremos os Deuses juntos. Vocês e eu! — Fez uma pausa,<br />
<strong>de</strong>pois segurou na extremida<strong>de</strong> do seu bastão e dirigiu-o à multidão. A vara<br />
negra on<strong>de</strong>ou, como se procurasse alguém no amontoado <strong>de</strong> gente, <strong>de</strong>pois<br />
fi xou-se em mim. — Lor<strong>de</strong> Derfel Cadarn! — gritou Merlim.<br />
— Senhor? — respondi, embaraçado por ser escolhido no meio da<br />
multidão.<br />
— Tu fi carás, Derfel. Os <strong>de</strong>mais i<strong>de</strong>-vos agora. I<strong>de</strong> para vossas casas,<br />
pois os Deuses não voltarão até à Véspera do Samain. I<strong>de</strong> para as vossas<br />
casas, tratai dos vossos campos, <strong>de</strong>pois vin<strong>de</strong> a Mai Dun. Trazei machados,<br />
trazei mantimentos, e preparai-vos para ver os vossos Deuses em toda a sua<br />
glória! Agora, i<strong>de</strong>! I<strong>de</strong>!<br />
Obediente, a multidão dispersou. Muitos pararam para tocar na minha<br />
capa, pois eu era um dos guerreiros que havia retirado o Cal<strong>de</strong>irão <strong>de</strong><br />
Clyddno Eiddyn do seu escon<strong>de</strong>rijo em Ynys Mon e, pelo menos para os<br />
pagãos, isso fazia <strong>de</strong> mim um herói. Tocaram igualmente em Issa, pois também<br />
ele era outro Guerreiro do Cal<strong>de</strong>irão, mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> a multidão se ter<br />
retirado ele esperou-me ao portão enquanto eu fui ao encontro <strong>de</strong> Merlim.<br />
Cumprimentei-o, mas ele ignorou as minhas perguntas sobre a sua saú<strong>de</strong>,<br />
perguntando, pelo contrário, se me tinham agradado os estranhos acontecimentos<br />
daquela tar<strong>de</strong>.<br />
— O que foi aquilo? — perguntei.<br />
— O que foi o quê? — perguntou-me, inocentemente.<br />
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