Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
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enchiam <strong>de</strong> fumo. Aqueci-me enquanto uma dúzia <strong>de</strong> homens <strong>de</strong> Carig se<br />
afadigava a cozinhar um quadril <strong>de</strong> veado num espeto feito com a lança <strong>de</strong><br />
um saxão capturado. Havia uma dúzia <strong>de</strong>ssas fortalezas num raio <strong>de</strong> um<br />
dia <strong>de</strong> marcha, todas viradas para leste para barrarem os atacantes <strong>de</strong> Aelle.<br />
Dumnónia tinha justamente as mesmas precauções, embora mantivéssemos<br />
um exército permanentemente junto à nossa fronteira. O custo <strong>de</strong><br />
tal exército era exorbitante, e reclamado por aqueles cujos impostos sobre<br />
os cereais, o couro, o sal e os velos pagavam as tropas. Artur sempre lutara<br />
para que esses impostos fossem justos e não <strong>de</strong>masiado pesados, apesar<br />
<strong>de</strong> nessa altura, após a rebelião, ter lançado um duro castigo cobrando implacáveis<br />
impostos sobre todos os senhores abastados que haviam seguido<br />
Lancelote. Essa cobrança foi <strong>de</strong>sproporcionada em relação aos Cristãos,<br />
e Meurig, o rei cristão <strong>de</strong> Gwent, enviou um protesto que Artur ignorou.<br />
Carig, o leal seguidor <strong>de</strong> Meurig, tratou-me com uma certa reserva, embora<br />
tivesse feito o possível para me prevenir sobre o que me esperava para<br />
lá da fronteira.<br />
— Sabeis, senhor — disse ele — que os Sais estão a recusar-se a <strong>de</strong>ixar<br />
os homens atravessarem a fronteira?<br />
— Sim, constou-me.<br />
— Dois mercadores atravessaram-na há uma semana — disse Carig.<br />
— Levavam cerâmica e velos. Avisei-os, mas — fez uma pausa e encolheu<br />
os ombros — os saxões fi caram com os potes e a lã, mas <strong>de</strong>volveram duas<br />
cabeças.<br />
— Se a minha cabeça vos for enviada — pedi-lhe — mandai-a a Artur.<br />
— Observei a gordura a pingar do veado e a incendiar-se no fogo. — Os<br />
viajantes regressam <strong>de</strong> Lloegyr?<br />
— Há semanas que não — disse Carig — mas no próximo ano, sem<br />
dúvida, vereis inúmeros lanceiros saxões na Dumnónia.<br />
— E em Gwent, não? — <strong>de</strong>safi ei-o.<br />
— Aelle não tem nenhuma contenda connosco — disse Carig com fi rmeza.<br />
Ele era um jovem nervoso a quem não agradava muito a sua posição<br />
a <strong>de</strong>scoberto na fronteira da Bretanha, apesar <strong>de</strong> cumprir o seu <strong>de</strong>ver com<br />
razoável consciência e os seus homens, reparei nesse facto, estarem bem<br />
disciplinados.<br />
— Sois bretões — disse eu a Carig — e Aelle é saxão, não é isso motivo<br />
sufi ciente?<br />
Carig encolheu os ombros.<br />
— A Dumnónia está enfraquecida, senhor, os Saxões sabem-no.<br />
Gwent está forte. Atacar-vos-ão, não a nós. — A sua voz soou terrivelmente<br />
complacente.<br />
— Mas uma vez vencida a Dumnónia — afi rmei, tocando no ferro<br />
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