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Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

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em volta do pedaço lamacento que provocara a sua queda. — Um belíssimo<br />

trabalho! Rezemos para que não seja em vão.<br />

— Toda a Bretanha reza para que assim seja — disse eu — exceto talvez<br />

os Cristãos.<br />

— Dentro <strong>de</strong> três dias, Lor<strong>de</strong> Derfel — assegurou-me — já não haverá<br />

cristãos na Bretanha, porque todos terão visto os verda<strong>de</strong>iros Deuses diante<br />

<strong>de</strong> si. Des<strong>de</strong> que — acrescentou ansiosamente — não chova. — Olhou para<br />

cima, para as nuvens carregadas e, <strong>de</strong> repente, pareceu prestes a chorar.<br />

— Chuva? — perguntei.<br />

— Ou talvez sejam as nuvens que impe<strong>de</strong>m a vinda dos Deuses. Chuva<br />

ou nuvens, não tenho a certeza, e Merlim está impaciente. Ele não diz,<br />

mas eu penso que a chuva é o pior, ou talvez sejam as nuvens. — Fez uma<br />

pausa continuando cabisbaixo. — Talvez ambas. Perguntei a Nimue, mas<br />

ela não gosta <strong>de</strong> mim — ele pareceu-me muito infeliz — por isso não tenho<br />

a certeza, mas continuo a suplicar aos Deuses para que limpem os céus. E,<br />

recentemente, tem estado nublado, muito nublado, e <strong>de</strong>sconfi o que os Cristãos<br />

estão a pedir para que chova. Trouxestes mesmo Excalibur?<br />

Desatei o pano que cobria a espada embainhada e empunhei o copo<br />

na sua direção. Por um instante não se atreveu a tocar-lhe, <strong>de</strong>pois cautelosamente<br />

retirou Excalibur da bainha. Olhou fi xa e reverentemente para a lâmina,<br />

<strong>de</strong>pois tocou com um <strong>de</strong>do nos embutidos em espiral e nos dragões<br />

cravados que <strong>de</strong>coravam o aço.<br />

— Feita no Outro Mundo — disse ele, numa voz cheia <strong>de</strong> admiração<br />

— pelo próprio Gofannon!<br />

— É mais provável que tenha sido forjada na Irlanda — disse eu pouco<br />

indulgente, porque havia algo na juventu<strong>de</strong> e credulida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gawain que<br />

me levava a <strong>de</strong>struir a sua inocência <strong>de</strong>vota.<br />

— Não, Lor<strong>de</strong> — assegurou-me ele com serieda<strong>de</strong> — foi feita no<br />

Outro Mundo. — Entregou-me <strong>de</strong> novo Excalibur. — Vin<strong>de</strong>, Lor<strong>de</strong> —<br />

disse ele, tentando apressar-me, mas voltou a escorregar na lama, equilibrando-se<br />

com difi culda<strong>de</strong>. A sua armadura branca, tão impressionante<br />

à distância, era andrajosa. As suas lâminas metálicas estavam salpicadas<br />

<strong>de</strong> lama e esbatidas, mas ele possuía uma indubitável autoconfi ança que<br />

impedia que parecesse ridículo. O seu longo cabelo dourado estava preso<br />

com um tecido axadrezado que lhe pendia até ao fundo das costas.<br />

Quando transpusemos a passagem da entrada que serpenteava por entre<br />

os gran<strong>de</strong>s talu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relva, perguntei a Gawain como conhecera Merlim.<br />

— Oh, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre que conheço Merlim! — respon<strong>de</strong>u-me satisfeito o<br />

príncipe. — Ele frequentava a corte <strong>de</strong> meu pai, embora não muito ultimamente,<br />

mas quando eu era apenas um garoto, ele estava sempre lá. Era<br />

o meu professor.<br />

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