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Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

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Fora a mim que ele fi zera a pergunta, mas foi o bispo Emrys que respon<strong>de</strong>u.<br />

— Será a morte, senhor — disse ele.<br />

— Morte? — perguntou Artur, não tendo a certeza se tinha ouvido<br />

corretamente.<br />

Emrys havia-se retirado para ir colocar-se sob a arcada, como se temesse<br />

a força da magia que tremeluzia e se espalhava tão brilhante por entre<br />

as estrelas.<br />

— Todas as religiões utilizam a morte, senhor — afi rmou com pedantismo<br />

— até os nossos <strong>de</strong>votos acreditam no sacrifício. Simplesmente,<br />

no Cristianismo foi o Filho <strong>de</strong> Deus que foi morto para que mais ninguém<br />

tivesse <strong>de</strong> ser esquartejado no altar; mas não me lembro <strong>de</strong> nenhuma religião<br />

que não utilize a morte como parte do seu dogma religioso. Osíris foi<br />

morta. — De repente, apercebeu-se <strong>de</strong> que falava do culto <strong>de</strong> Ísis, a causa<br />

da ruína da vida <strong>de</strong> Artur, e continuou rapidamente: — Mitras também<br />

morreu e a sua veneração exige a morte <strong>de</strong> touros.<br />

— Todos os nossos Deuses morrem, senhor — disse o bispo — e todas<br />

as religiões, exceto o Cristianismo, recriam essas mortes como parte da sua<br />

veneração.<br />

— Nós, Cristãos, passámos para além da morte — disse Galaad —<br />

para a vida.<br />

— Nós temos um Deus glorifi cado — concordou Emrys, fazendo o<br />

sinal da cruz — mas Merlim não tem. — As luzes no céu eram agora mais<br />

brilhantes; enormes colunas <strong>de</strong> cores através das quais, semelhantes a fi os<br />

numa tapeçaria, raios <strong>de</strong> luz branca raiavam e <strong>de</strong>sapareciam. — A morte é<br />

a magia mais po<strong>de</strong>rosa — disse o bispo <strong>de</strong>saprovativamente. — Um Deus<br />

misericordioso não o permitiria, e o nosso Deus pôs fi m a isso com a morte<br />

do seu próprio Filho.<br />

— Merlim não utiliza a morte — afi rmou Culhwch, zangado.<br />

— Utiliza, sim. — Falei com suavida<strong>de</strong>. — Antes <strong>de</strong> irmos buscar o<br />

Cal<strong>de</strong>irão, ele fez um sacrifício humano. Ele disse-mo.<br />

— Quem? — perguntou Artur com rispi<strong>de</strong>z.<br />

— Não sei, senhor.<br />

— Provavelmente mentia — disse Culhwch, olhando para cima. —<br />

Ele gosta <strong>de</strong> o fazer.<br />

— Ou, o que é mais provável, ele disse a verda<strong>de</strong> — afi rmou Emrys. —<br />

A antiga religião exigia muito sangue, e em geral era humano. Certamente<br />

que sabemos muito pouco, mas lembro-me do velho Balise me dizer que<br />

os druidas gostavam <strong>de</strong> matar pessoas. Normalmente eram prisioneiros.<br />

Alguns eram queimados vivos, outros colocados em sepulturas.<br />

— E outros fugiam — acrescentei suavemente, porque eu próprio ha-<br />

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